PUBLICIDADE

A indigenista Rosita Mascarenhas, esposa do sertanista Sydney Possuelo, morre em acidente

A indigenista Rosita Mascarenhas Watkins, esposa do sertanista Sydney Possuelo, morre em acidente

Rosita Mascarenhas Watkins, esposa de Sydney Possuelo, sertanista histórico e ex-presidente da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), morreu em acidente grave na rodovia BR-020, em Goiás, ontem, 5 de setembro. As duas filhas, Karla Mascarenhas Watkins e Michelle Mascarenhas Watkins, enteadas de Possuelo, que estavam no carro, também faleceram, conforme nota divulgada pela Funai, hoje.

Menino de 10 anos, neto de Possuelo e Rosita, sobreviveu. De acordo com o site Metrópoles, a criança não apresenta lesões graves aparentes e foi atendida pela equipe do Samu e levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), da cidade de Formosa.

Rosita tinha 64 anos e era indigenista engajada na defesa dos povos indígenas. Junto do marido, costumava receber várias lideranças indígenas e pessoas aliadas em sua casa, em Brasília.

Na nota da Funai, Joenia Wapichana, presidente do órgão, afirma que a perda de Rosita é inestimável.

PUBLICIDADE

“Rosita era amiga de todos. Recebeu a gente na casa dela com amigos. Tinha a consideração de me ligar perguntando se eu estava bem, e dizia que podia contar com eles. Sempre foi muito atenciosa e solidária”, conta a presidente da instituição.

Últimas presenças

Segundo a Funai, Rosita esteve no encontro Chamado de Raoni, realizado no final de julho deste ano na aldeia Piaraçu, do povo Kayapó, no Mato Grosso.

Na ocasião, foi anunciada a aprovação dos estudos de Identificação e Delimitação da Terra Indígena (TI) Kapôt Nhĩnore, localizada nos estados do Pará e Mato Grosso, onde, segundo o Instituto Socioambiental reúne povos Isolados Capot/Nhinore, além dos Mebengôkre Kayapó, Mebengôkre Kayapó Mekrãgnoti, Mebengôkre Kayapó Metyktire e Yudja.

Em junho último, Rosita também esteve na sede da Funai, em Brasília, acompanhada de Sydney Possuelo e da atriz e ativista Lucélia Santos, numa visita de cortesia. Eles foram recebidos pela assessora Parlamentar, Ana Paula Sabino, e pela Assessora de Acompanhamento de Estudos e Pesquisas, Maial Kayapó.

Repercussão

“A Funai lamenta profundamente a perda e manifesta sua solidariedade aos familiares e amigos das vítimas diante dessa tragédia”, diz a nota.

O Conselho Indígena de Roraima (CIR) também divulgou nota de pesar, lamentando a perda de Rosita e de suas filhas. “Sempre amigáveis e generosos, o casal recebeu o líder e ex-coordenador do CIR, Jacir José de Souza, sua esposa Eudina Gabriel, além de Joenia Wapichana e demais convidados, no mês de fevereiro deste ano em sua residência, em Brasília, como gesto de gratidão e apoio à luta dos povos indígenas de Roraima, especialmente da Raposa Serra do Sol”.

A notícia do acidente foi recebida com comoção e lamento por amigos do casal, entre eles alguns revelaram-se devastados e declararam solidariedade e apoio a Possuelo, que tem 83 anos.

“Lamento profundamente a perda da companheira Rosita M. Watkins, indigenista valorosa! Meus sentimentos a todos que compartilhavam de sua amizade e trabalho. Quero aqui também me solidarizar com seu companheiro Sydney Possuelo e toda sua família! Rosita presente!”, disse o deputado Ailton Faleiro (PT/PA), presidente da Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados.

“Notícia infeliz para o indigenismo”, declarou o líder indígena Beto Marubo, do Vale do Javari, nas redes sociais, ao compartilhar a notícia da Funai.

Companheira inseparável

Sidney Possuelo é indigenista e sertanista de maior projeção no Brasil. Ele tem atuação reconhecida, sobretudo, junto aos povos isolados. Atuou junto aos Zoé, no Pará, e os Korubo, na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas.

Sua relação amigável com os indígenas ajudou a mudar a política indigenista sobre os isolados, que ou a ser de não-contato.

No ano ado, Possuelo devolveu a Medalha do Mérito Indigenista ao Ministério da Justiça (acompanhada de pin, broche e diploma, que completam o conjunto), recebida em 1987, ao saber que o ex-presidente Jair Bolsonaro receberia o mesmo reconhecimento.

Também em 2022, acompanhou preocupado as notícias do desaparecimento e assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Possuelo criticou a investigação da Polícia Federal que, na ocasião, minimizava as causas do crime.

“Se esse ciclo de violência, invasões e mortes não for estancado imediatamente, o que se pode prever é o desaparecimento de índios isolados que estão à mercê de invasores, escudados apenas em seus elementares meios de defesa. Os Korubo não têm arco e flecha, lutam corpo a corpo. Se não se reverterem essas ações contra os povos indígenas a tendência é o desaparecimento”, alertou em entrevista exclusiva à Amazônia Real (que reproduzimos, aqui, no Conexão Planeta).

Mesmo aposentado, ele nunca deixou de participar de programações, mobilizações e de entrevistas na imprensa. Na maioria dessas atuações, Rosita foi sua companheira inseparável.
_________

* Este texto foi originalmente publicado no site da agência Amazônia Real em 8/9/2023

Foto: Nay Jinknss/ cedida para Amazônia Real

Comentários
guest

0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
s embutidos
Ver todos os comentários
Notícias Relacionadas
Sobre o autor