Hoje, pouco depois das 11h, duas jovens, de 20 e 21 anos, jogaram sopa de tomate em lata na mais famosa obra do pintor holandês Vincent Van Gogh – Os Girassóis, de 1888 -, exibida pela The National Gallery, em Londres. Esta é uma das obras mais importantes do museu.
Em seguida, colaram suas mãos esquerdas na parede e se voltaram para o meio da sala, exibindo o nome da organização que representam – Just Stop Oil – impresso em suas camisetas. E uma delas gritou:
“O que vale mais, arte ou vida? Arte vale mais do que comida? Mais do que justiça? Você está mais preocupado com a proteção de uma pintura ou com a proteção do nosso planeta e das pessoas?”.
As ativistas queriam chamar a atenção dos visitantes e da mídia e conseguiram. Protestavam contra o descaso do governo em relação ao combate às mudanças climáticas – já que tem investido no uso de combustíveis fósseis – e ao custo de vida.
A manifestação faz parte de uma série empreendida pelo grupo nas últimas duas semanas, que chegou a bloquear estradas do centro de Londres, enfurecendo motoristas e ageiros.
Compreendemos seu objetivo e que, na maioria das vezes, só é possível chamar a atenção do público e de governos com ações extremas. No entanto, acreditamos que o protesto vale uma reflexão.
Entre as pessoas que presenciaram a cena, houve quem ficasse indignado e quem sentisse raiva, como contou o jornal britânico The Guardian. O apoio foi mínimo como em toda ação extrema.
Ao saber que a tela estava protegida por vidro e que a pintura nada sofreu – apenas a moldura foi prejudicada -, uma visitante declarou que se solidarizava com os ativistas.
Mas nos cabe questionar: Era realmente necessário atacar a tela de Van Gogh para chamar a atenção? Afinal, Greta Thunberg, aos 16 anos, sentou-se sozinha em frente do Parlamento Sueco com um cartaz para declarar a seus conterrâneos que repudiava a inação do governo na luta pelo clima. Sem saber, ali, ela deu início ao maior movimento climático mundial, o Fridays for Future.
No entanto, a situação política, econômica e climática do planeta naquela época era bem diferente da atual. Tudo piorou.
Se perguntássemos para as pessoas que am fome e perderam seus empregos por causa da inflação na Inglaterra, na Europa, no Brasil, em qualquer continente, é bem possível que elas apoiassem os ativistas da Just Stop Oil. Tudo depende do lugar do qual se fala, do quanto somos afetados pelo tema em questão.
“A crise do custo de vida é parte do custo da crise do petróleo, o combustível é inível para milhões de famílias com frio e fome. Eles não podem nem aquecer uma lata de sopa”, declarou Alex De Koning, porta-voz da organização, ao The Guardian.
Ele contou que o grupo se preocupou com uma possível repulsa das pessoas a respeito da causa, ou seja, que ‘o tiro poderia sair pela culatra’, mas logo acrescentou: “Não estamos tentando fazer amigos aqui, estamos tentando fazer mudanças e, infelizmente, é assim que as mudanças acontecem”.
Repudiamos qualquer forma de violência contra seres vivos e o patrimônio material ou natural. Neste caso ocorrido na National Gallery, também me chamou a atenção a agressão a uma obra de arte, que representa a cultura, que é uma das primeiras áreas vilipendiadas por extremistas.
Temos visto e sentido isso no Brasil com o governo de Bolsonaro, não só em relação à cultura como à ciência, à educação, à saúde, ao meio ambiente… Todas áreas que nos ajudam a viver e a sobreviver.
Mas compreendo também que, quando não somos ouvidos e nos desesperamos por isso – é o caso do grupo Just Stop Oil -, podemos chegar a atitudes radicais como a adotada por Phoebe Plummer e Anna Holland na galeria 43 do museu londrino.
O protesto resultou na prisão das duas jovens por danos criminais e transgressão agravada. Elas foram levados sob custódia a uma delegacia de Londres. Certamente, o caso não terá maiores desdobramentos no sentido de aumentar a consciência da recém-empossada primeira ministra, Liz Truss, ou dos ingleses a cerca do abismo climático em que nos encontramos como civilização.
Assista ao vídeo produzido pela ONG e publicado em seu perfil no Instagram:
Fontes: Just Stop Oil, Público, The Guardian
Foto: reprodução do vídeo
Assisti a reportagem e detestei essa atitudes desses ativistas de estragar as obras. Poderiam fazer arte nas ruas e não dentro de um museu