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Cerca de 38 milhões de animais são retirados da natureza brasileira por ano

Cerca de 38 milhões de animais são retirados da natureza brasileira por ano: nove em cada dez morrem na captura ou transporte

O Brasil é um dos países com a mais rica biodiversidade do planeta. Abriga milhares de espécies da fauna e da flora, muitas endêmicas de nossos biomas, ou seja, só existem aqui e em nenhum outro lugar do mundo. Mas também são muitas as ameaças que animais e plantas enfrentam atualmente: desmatamento, queimadas, caça ilegal, mudanças climáticas e a ação criminosa de traficantes. E esses últimos têm a Amazônia como sua região prioritária para a captura de espécimes da vida selvagem.

Estima-se que, anualmente, 38 milhões de animais sejam retirados da natureza brasileira, “sendo que apenas um em cada dez deles consegue chegar às mãos do consumidor final, enquanto nove morrem durante a captura ou transporte.” Os dados são do relatório produzido pela Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) e marcam os 25 anos de atuação da organização no Brasil.

O estudo mostra como o tráfico nacional e internacional de animais se utiliza cada vez mais das plataformas digitais para expandir sua rede de fornecedores e consumidores. Através do monitoramento das redes sociais, especificamente WhatsApp, Facebook e Instagram, durante o período de seis meses no ano de 2024 (fevereiro a julho), foram encontradas e catalogadas 5 mil trocas de mensagens relacionadas à compra ou venda de animais da fauna silvestre ou exótica.

“O principal impacto do tráfico é o ambiental, obviamente. Muitas espécies são levadas à extinção e ele provoca ainda um desequilíbrio, afetando a cadeia reprodutiva e alimentar de muitas outras”, afirma Dener Giovanini, coordenador geral da Renctas. “Ao retirar um animal da natureza, está se retirando também todos os descendentes que ele teria.”

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Denner cita ainda as consequências sociais geradas pelo tráfico. Segundo ele, muitas comunidades tradicionais são exploradas e cooptadas pelos criminosos e acabam caçando espécies em troca de dinheiro, alimentos e comida. “Existe ainda um grave problema de saúde pública, com a possível transmissão de doenças.”

Enquanto houver demanda, continuará existindo o tráfico

O relatório da Renctas faz também um levantamento histórico e mostra como no ado, peixes-bois e onças-pintadas foram mortos indiscriminadamente. Essas espécies eram caçadas para atender a demanda de um mercado ávido por suas carnes ou peles, muito das quais exportadas para países da Europa. Manaus chegou a abrigar mais de 150 grandes exportadores de peles de animais silvestres entre a década de 1920 e 1960.

“Os anos am. As ameaças continuam. O uso de peles de animais silvestres em objetos de moda e decoração arrefeceu a partir da década de 2000. Mas, nem por isso, a pressão sobre a fauna amazônica diminuiu. Nos últimos anos, os grupos de caça esportiva se organizaram e avançaram com determinação”, denuncia a Renctas. “Apesar do aumento da consciência ambiental na sociedade brasileira, a legislação ambiental é condescendente com aqueles que promovem a matança da fauna silvestre.”

Em 2022, o relatório “Descontrole no Alvo – Amazônia no alvo“, divulgado pelo Instituto Igarapé alertava que o registro de armas por caçadores, atiradores e colecionadores quase triplicou em três anos no Brasil; e na Amazônia o aumento chegava a 300%. A disparada nos números coincidiu com a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, que estimulou o armamento da população.

O fato é que há um número cada vez maior de armas circulando na Amazônia. E vale lembrar que no Brasil somente está liberada a caça de controle a uma espécie animal exótica e invasora, o javali-europeu (Sus scrofa) e a seu híbrido, o porco-doméstico (javaporco).

Para Denner, existe uma falta de comprometimento real do governo em combater esse tipo de atividade ilegal. “Hoje temos todos os meios para combater o tráfico ilegal de animais silvestres. Poderiam ser feitos alguns aprimoramentos na legislação, investimentos na área de controle de fiscalização, principalmente de mantenedores de espécies silvestres, mas sem sombra de tudo, nada é mais importante do que se trabalhar a consciência ambiental da sociedade, pois enquanto houver a demanda, continuará existindo a procura e o tráfico.”

Animais comercializados pelas redes sociais
Foto: relatório Renctas

Espécies de animais mais traficadas na Amazônia

De acordo com o relatório da Renctas, entre as espécies mais mencionadas no tráfico de animais silvestres online estão tartaruga-da-amazônia, tracajá, iguana e jiboia (répteis); curió, canário-do-amazonas, bicudo, papagaio-curica e arara-canindé (aves); guariba, macaco-prego e aranha, preguiça e peixe-boi (mamíferos); pirarucu, peixe-zebra, acari (peixes) e sapo-amazônico, ponta-de-flecha, de chifre e rã-kambô (anfíbios).

Os estados do Amazonas e do Pará são aqueles onde mais ocorre a captura para o tráfico da fauna amazônica. Já os cinco países que lideram o ranking dos que mais recebem esses animais são Guiana sa, Uruguai, Alemanha, Singapura e Holanda – muitos são apenas pontos de parada, servem como escalas, para o envio deles para destinos mais distantes.

O estudo ressalta, entretanto, que a caça de subsistência, ou seja, aquela usada para fornecer alimentação familiar, de proteína animal, ainda é amplamente empregada por populações indígenas e ribeirinhas.

Por outro lado, a captura de espécies tendo como finalidade o uso das mesmas como companhias (estimação, os chamados pets) não é comum na região, entretanto, répteis, aves, peixes, anfíbios e até mamíferos são enviados da Amazônia para outras cidades do Brasil e para o exterior.

Por último, animais ainda são retirados ilegalmente do Brasil para o desenvolvimento de medicamentos (biopirataria), fornecer peles para o mercado da moda e órios e a cobiça de colecionadores. “Essa é a modalidade que provavelmente mais danos ambientais provoca, ao priorizar animais raros ou ameaçados de extinção. Muitos colecionadores de animais particulares mantêm verdadeiros zoos das mais variadas espécies. Quanto mais ameaçada uma espécie se torna, maior é o valor que ela alcança no mercado ilegal e, por consequência, mais procurada se torna”, destaca o relatório da organização.

Cerca de 38 milhões de animais são retirados da natureza brasileira por ano: nove em cada dez morrem na captura ou transporte
Lista dos países que mais recebem animais capturados no Brasil
Imagem: relatório Renctas

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Foto de abertura: relatório Renctas

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