
Gilberto Gil transformou sua turnê de despedida – Tempo Rei -, em uma oportunidade de mobilização ambiental. Se une à Conservação Internacional – que atua em mais de 30 países desde 1990 pela proteção de recursos naturais essenciais à vida e da qual é conselheiro – e à campanha Conservar é Nossa Arte, fazendo um chamado especial neste Dia Mundial do Meio Ambiente.
Iniciativa conecta música e engajamento com o intuito de sensibilizar o público sobre a importância da preservação ambiental, tão urgente neste momento em que o mundo sofre com os efeitos das mudanças climáticas, a natureza no Brasil está ameaçada pela maioria dos parlamentares no Congresso Nacional e este ano em que receberemos líderes globais na 30ª Conferência sobre Clima da ONU, que será realizada em Belém.
A campanha nas redes sociais apresenta dois filmes lindos e sensíveis. Pura poesia. No primeiro – Esse não é o fim (assista no final deste post) -, Gil faz um paralelo amoroso entre sua despedida do cenário musical (novos álbuns e shows) e a natureza, com a qual aprendeu a renascer, refazer, reinventar e recomeçar.
“Companheira antiga, rainha dos silêncios e das orações. Foi ela quem me ensinou a ouvir o mundo antes de querer dizer alguma coisa. E olha: ela tem falado alto! No calor que arde, na água que falta, no chão que racha, mas também no broto que insiste, no rio que resiste e no canto dos povos que guardam a floresta como se fossem suas mães”.
É um manifesto poético que conecta sua trajetória à urgência climática. E, assim, Gil nos convida à transformação e reforça a ideia de que conservar a natureza também é um ato de criação.
“Este não é o fim! É só uma transição, como nas canções, um respiro, antes do como mudar porque o show da Terra, esse com milhões de anos, ele tem que continuar!”. E o artista arremata: “Brasil, conservar é nossa arte”.
No segundo vídeo, publicado hoje nas redes da CI, o músico diz: “Tá na hora de fazer da arteum ato de conservação!” porque “conservar a natureza é conservar a arte”. E, depois de revelar o quanto a natureza tem influenciado sua música – “A natureza a pela minha música. E minha música a pela natureza. Pensamentos, ideias, sentimentos e a contemplação: eu diante dela” -, nos pergunta: “Como você e a natureza criam juntos?”.
Sua intenção (e da CI, que está completando 35 anos) é incentivar você, eu e todos os brasieiros a produzir um vídeo para responder a este chamado, aderindo ao movimento, que teve início em 31 de maio, no show de Gilberto Gil no Rio de Janeiro, e se estenderá até a COP30, com ações em múltiplas plataformas.
Gil e a militância em defesa do meio ambiente
O envolvimento de Gilberto Gil com causas ambientais é antigo e foi influenciado por tudo que viveu desde a infância.
Nascido em Salvador e criado na pequena cidade de Ituaçu, no sertão baiano, a paisagem da Caatinga e seu cancioneiro – cordel, as artes armoriais e outros ritmos – moldaram seus sentidos e sua alma.
Quando foi eleito vereador de Salvador, em 1988, com 11.111 votos, direcionou sua agenda para a criação da Comissão de Defesa do Meio Ambiente, que aprovou e presidiu. E, na mesma época, se envolveu nos conselhos consultivos da Fundação Mata Virgem e da Fundação Alerta Brasil Pantanal.
No ano seguinte, ajudou a criar o Movimento OndAzul, que virou Fundação OndAzule, hoje, é o Instituto OndAzul. A iniciativa resultou do compromisso de Gil e dos políticos Alfredo Sirkis e Juca Ferreira, do Partido Verde, no Rio de Janeiro. Ele presidiu a fundação de 1990 a 2002.
Também se envolveu com a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Socioambiental, atuações que renderam um convite para integrar o grupo de trabalho da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – a Rio 92 -, que reuniu, no Rio de Janeiro, chefes de Estado para discutir as questões ambientais globais.
A militância de Gil sobre temas como alimentação, arte, cultura e política levou a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) a convidá-lo para ser seu embaixador. Gil aceitou – claro! – e se comprometeu a lutar contra a fome no mundo. Em Roma, durante cerimônia pelo Dia Mundial da Alimentação, em outubro de 2001, ele declarou à imprensa: “Despertar a consciência dos poderosos, trata-se de solidariedade”.
Quando se tornou ministro da Cultura do governo Lula, em 2003, Gil equilibrou a difícil tarefa de público e de músico, e adotou a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, da UNESCO, como base de sua gestão.
Desde então, tem levado o discurso da importância da preservação do meio ambiente a diversos públicos no país e no mundo, por meio de shows, programas de TV, entrevistas, palestras em universidades, seminários e conferências.
Também no Carnaval baiano: desde 2005, o Camarote Expresso 2222 adota o conceito delixo zero. E, claro, através de sua música. Os versos de Marmundo, canção do álbum Fé na Festa, lançado em 2010, refletem de modo poético o engajamento de Gil com o meio ambiente. Eis a letra:
“O mar do mundo sujou
Manda o mundo se limpar
O mar do mundo secou
Manda o mundo se molhar
O mar do mundo entornou
Manda o mundo se fechar
O mar do mundo acabou
Manda o mundo se acabar
O mar do mundo ficou
Um mar imundo demais
Se a barra mundo pesou
O mundo sabe o que faz”.
Em 2021, Gil apoiou a campanha do Instituto Terra, criado em 1998 por Lélia e Sebastião Salgado, para plantar um milhão de árvores por ano (contamos aqui – neste link, estão publicados a letra e o clipe), e compôs o delicioso samba Refloresta, lançado em clipe que gravou com o filho Bem Gil e o trio Gilsons – formado por José, Francisco e João, respectivamente filho e netos de Gil.
No mesmo ano, regravou a música Tenho Sede – escrita por Dominguinhos e Anastácia em 1976, foi gravada por Gil em 1977 para o álbum Refazenda – em apoio à campanha para a construção de um milhão de cisternas, desenvolvida pela Articulação do Semiárido (ASA), como contamos aqui.
A seguir, assista aos dois vídeos da campanha da Conservação Internacional (CI) com Gilberto Gil:
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Foto (destaque): reprodução de vídeo
Com informações da CI e do Google Arts And Cculture