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Corredores de Vida: Mata Atlântica ganha 10 milhões de árvores numa das regiões mais desmatadas de São Paulo 

Corredores de Vida: Mata Atlântica ganha 10 milhões de árvores numa das regiões mais desmatadas de São Paulo 

Apenas no primeiro trimestre deste ano, a região do Pontal do Paranapanema, no estado de São Paulo, ganhou 1,4 milhão de mudas de árvores nativas da Mata Atlântica – em uma área equivalente a 780 campos de futebol –, graças ao projeto Corredores de Vida, implementado pelo IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas há 25 anos. 

Desde então (ano 2000), este projeto de reflorestamento plantou 10 milhões de mudas, que estão trazendo a floresta de volta para 5.100 hectares, área que equivale a 5.100 campos de futebol, o Pontal do Paranapanema, no extremo oeste do estado de São Paulo.

O estudo Mapa dos Sonhos, elaborado pelo IPÊ – que indica os locais mais estratégicos para restauração, nessa região, a fim de beneficiar a biodiversidade e o deslocamento da fauna, considerando também interesses socioeconômicos dos atores locais – é a base do projeto. 

Sua estratégia de restauração conecta Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reservas Legais (RLs) de propriedades rurais a duas Unidades de Conservação (UCs): o Parque Estadual Morro de Diabo (PEMD) e a Estação Ecológica Mico-Leão-Preto (ESEC MLP), além de fragmentos. E considera imprescindível o plantio em propriedades rurais para a conectividade entre UCs e, também, para o estabelecimento de corredores entre importantes fragmentos florestais.

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Nos primeiros três meses deste ano, as árvores plantadas foram distribuídas em APPs e Reservas Legais de 14 propriedades privadas, localizadas em Teodoro Sampaio (incluindo o Assentamento Vale Verde), Presidente Epitácio, Marabá Paulista, Mirante do Paranapanema, Anhumas.

Corredores de Vida: Mata Atlântica ganha 10 milhões de árvores numa das regiões mais desmatadas de São Paulo 
Mico-leao-preto
Foto: Gabriela Cabral Resende, pesquisadora do Instituto Ipê

Ampliação do Mapa dos Sonhos deu novo ritmo ao projeto

Inicialmente, o Mapa dos Sonhos contemplava sete municípios: Euclides da Cunha Paulista, Marabá Paulista, Mirante do Paranapanema, Presidente Epitácio, Rosana, Sandovalina e Teodoro Sampaio. 

Mas, em 2021, o estudo foi ampliado para outras cidades do Oeste Paulista, por meio do projeto ARR Corredores de Vida (falamos disto mais adiante). Assim, foram incluídas: Alfredo Marcondes, Alvares Machado, Anhumas, Caiabu, Caiuá, Emilianópolis, Estrela do Norte, Indiana, João Ramalho, Martinópolis, Narandiba, Piquerobi, Pirapozinho, Presidente Bernardes, Presidente Prudente, Presidente Venceslau, Rancharia, Regente Feijó, Ribeirão dos Índios, Santo Anastácio, Santo Expedito, Taciba e Tarabai.

O objetivo era gerar créditos de carbono, em parceria com a Ambipar, líder global em soluções ambientais, a fim de restaurar 75 mil hectares de áreas prioritárias – dos 260 mil hectares de ivos ambientais na região do Pontal – até 2041. 

Com esse projeto, espera-se que neutralizar 29 milhões de toneladas de CO2e na região, em 50 anos. 

A ampliação do mapa também imprimiu um novo ritmo ao projeto. “Antes plantávamos de 100 a 200 hectares em um ano, mas, hoje, plantamos isso em um mês!”, destaca Laury Cullen Jr., coordenador do projeto Corredores de Vida.

Corredores de Vida: Mata Atlântica ganha 10 milhões de árvores numa das regiões mais desmatadas de São Paulo 
Laury Cullen, coordenador do projeto Corredores de Vida, apresenta o Mapa dos Sonhos
Foto: Carlos Aidar / divulgação

Maior corredor restaurado na Mata Atlântica

Entre os destaques do projeto Corredores de Vida estão 2,4 milhões de árvores que formam – , em 12 km – o maior corredor restaurado na Mata Atlântica, que conecta o Parque Estadual Morro do Diabo (PEMD) e a Estação Ecológica Mico-Leão-Preto (ESEC MLP).  

restauração florestal é executada de maneira integrada com participação socialgeração de renda para a comunidade e benefícios para a biodiversidade e o clima

E a diversidade de espécies nativas é parte importante do processo já que pode garantir o retorno de espécies da fauna à floresta, muitas delas ameaçadas de extinção, como o mico-leão-preto.

Clima, Comunidade e Biodiversidade

Importante destacar também que o projeto Corredores de Vida é baseado no tripé Clima, Comunidade, Biodiversidade (CCB)

No quesito Clima, as árvores plantadas neutralizam carbono e gases equivalentes, como o metano. 

No que tange à Comunidade, o plantio promove geração de emprego e renda, empregando diretamente 229 pessoas (56 jovens), divididas em três frentes: equipe técnica do IPÊ, viveiros comunitários e empresas florestais.

Corredores de Vida: Mata Atlântica ganha 10 milhões de árvores numa das regiões mais desmatadas de São Paulo 
A viveirista Dona Iraci Iraci Lopes Duveza, do viveiro Viva Verde, e Nivaldo Ribeiro Campos, técnico do IPÊ
Foto: Laurie Hedges / divulgação

Já o aspecto Biodiversidade é estratégico para a conservação da fauna e da flora da Mata Atlântica. As mudas nativas empregadas são produzidas em 13 viveiros comunitários, com coleta de sementes em diferentes árvores matrizes distribuídas pela região, proporcionando um plantio com maior variabilidade genética.

E Laury Cullen Jr. acrescenta: “O projeto Corredores de Vida tem ganhos significativos tanto para o Clima como para Biodiversidade, no Pontal. Porém, envolver a Comunidade ao incentivar o empreendedorismo, por meio da criação de empresas que realizam os plantios e a manutenção dessas áreas, além de viveiros, é o ponto alto do projeto. Hoje, 18 empresas florestais e 13 viveiros comunitários prestam serviço para a cadeia da restauração florestal implementada pelo IPÊ”.

Restauração florestal e os desafios globais

A restauração florestal está no compromisso dos países que integram a Convenção da Diversidade Biológica (CDB) da ONU, que estabelece 23 metas globais do Marco Global de Biodiversidade de Kunning-Montreal. Entre elas, se destacam a regeneração e a restauração de ecossistemas

Uma das metas, por exemplo, estabelece que todos os 196 países signatários devem se esforçar para assegurar que, até 2030, pelo menos 30% das áreas de ecossistemas terrestres degradadoságuas interiores, costeiras e marinhas estejam sob restauração eficaz, a fim de promover a biodiversidade, as funções e serviços ecossistêmicos, a integridade ecológica e a conectividade

O Instituto IPÊ coopera com mais de 70% das metas globais de biodiversidade.

A restauração e preservação de áreas florestais são essenciais também para que o Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas dê certo. O acordo, que entrou em vigor em 2016, estabelece metas para conter o aquecimento global em 1,5ºC ou, no máximo, 2ºCem relação aos níveis pré-industriais.

Para conter os efeitos críticos do aumento da temperatura no mundo, a ONU aponta a necessidade de restauração de 1 bilhão de hectares de florestas no mundo, sendo 12 milhões de hectares de florestas só no Brasil

No entanto, o Observatório do Clima lançou, em 2024, proposta mais ambiciosa para o Brasil: a restauração de 21 milhões de hectares de cobertura vegetal em seu território.

Pesquisa e estratégia

Os corredores florestais do IPÊ têm como base pesquisas científicas para conservar o mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus), espécie endêmica do estado de São Paulo que corre risco de extinção.  

intenso desmatamento na região, em especial a partir dos anos 50 e 60, isolou os animais em pequenas “ilhas verdes” (fragmentos florestais) e sem espaço para locomoção, alimentação e reprodução, o que significava risco à sua sobrevivência.

Com o objetivo de restaurar o habitat dos micos e ampliar sua área de uso e circulação, o IPÊ criou o Mapa dos Sonhos (sobre o qual falamos neste texto) com a proposta de implantar corredores florestais em áreas de Reserva Legal de propriedades rurais, em parceria com os fazendeiros e produtores.

Como já foi destacado, o mapa indica os melhores locais para restauração, beneficiando a biodiversidade, formando corredores que possam se ligar aos grandes fragmentos florestais, à ESEC MLP e ao PEMD.

Asssim, a implementação do mapa garante que os micos e outras espécies possam ter mais área de floresta para viver, além de caminhos mais seguros para transitar de um fragmento florestal a outro e beneficia os proprietários rurais que precisam se adequar ao Código Florestal, que determina 20% da área à Reserva Legal.

Além do corredor da Fazenda Rosanela, que conecta as duas UCs  da região, o IPÊ integrou novas áreas ao projeto Corredores de Vida. 

Uma delas, foi a fazenda Estrela, que hoje tem 507 hectares restaurados com o plantio de mais de 1 milhão de mudas. Este corredor está localizado na face norte do PEMD e tem conexão com ESEC MLP/unidade Água Sumida, em Teodoro Sampaio, e com a Reserva Legal da Fazenda San Maria, em Presidente Epitácio, onde há presença de grupos de mico-leão-preto.

Estes plantios com conexões nas faces norte e sul do PEMD ampliaram a visibilidade do projeto. Na sequência, outros proprietários rurais interessados na adequação às leis ambientais do estado de São Paulo abriram as porteiras de suas fazendas para a restauração florestal, entre elas, a São Paulo, Maravilha e Categeró. Totalizando, aproximadamente, 1 milhão de mudas plantadas.

Os resultados são monitorados com uso de câmeras trap e gravadores instalados nos Corredores de Vida e nas UCs PEMD e ESEC MLP. Apenas na última campanha foram mais de 10 mil registros fotográficos e mais de 100 mil minutos de gravação de áudio. E uma nova campanha está em andamento.

Novas florestas

Nas áreas restauradas, os pesquisadores do IPÊ já identificaram 22 espécies de mamíferos de médio e grande porte, como onça-parda (Puma concolor), gato mourisco (Herpailurus yagouaroundi) e gato do mato pequeno (Leopardus guttulus), como também espécies consideradas vulneráveis, segundo a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais), como anta-brasileira (Tapirus terrestris), lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e o tamanduá-bandeira(Myrmecophaga tridactyla).

Corredores de Vida: Mata Atlântica ganha 10 milhões de árvores numa das regiões mais desmatadas de São Paulo 
Onça-parda em registro de câmera trap no Pontal do Paranapanema

Somam-se a estes: 136 espécies de aves, entre elas udu-de-coroa-azul (Momotus momota) e inhambu-chororó (Crypturellus parvirostris).

Somando as áreas restauradas e as UCs, o grupo de pesquisadores identificou 174 espécies de aves29 espécies de mamíferos, incluindo 5 ameaçadas de extinção, como o mico-leão-preto, o gato-mourisco, a anta-brasileira, o lobo-guará e o tamanduá-bandeira. 

Até o momento, entre as espécies ameaçadas, o mico-leão-preto foi o único animal registrado somente nas Unidades de Conservação.

A seguir, os principais financiadores do projeto Corredores de Vida: AstraZeneca Biofarmacêutica, BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Carbon Free Brasil, Durrell Wildlife Conservation Trust, Ecosia, FUNBIO (Fundo Brasileiro para a Biodiversidade), Mercado Livre/Pachamama, Natura, One Tree Planted (OTP, EUA), Petrobras, Plant for the Planet, Programa Nascentes (Brasil), Atvos, Cart, Entrevias, SP Mar e WeForest.

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Com informações do Instituto Ipê

Foto (destaque): Carlos Aidar / divulgação

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