
Ele é minúsculo, tem apenas 15 milímetros, mas foi considerado uma descoberta “notável” pelos pesquisadores que o encontraram em uma região remota no oeste da Amazônia, na bacia do rio Juruá. O pequeno sapo-ponta-de-flecha, com listras azuis ao longo do corpo e pernas cor de cobre, com manchas marrons – na imagem acima -, foi batizado de Ranitomeya aetherea – aetherea significa celestial em latim.
“Esse é o adjetivo que mais se aproxima de descrever a beleza dessa espécie, e faz referência direta aos tons de azul que lembram a cor do céu”, diz o biólogo Esteban Diego Koch, doutorando em Genética e Biologia Evolutiva do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), e autor principal do artigo publicado no jornal Plos One, com a descrição da nova espécie.
Mas como a biodiversidade da Amazônia é realmente incontestável, além do Ranitomeya aetherea, os pesquisadores brasileiros descobriram ainda outra espécie de sapo-ponta-de-flecha, a Ranitomeya aquamarina, que apresenta listras azul-esverdeadas de tons metálicos no dorso e nas laterais do corpo.

Foto: Alexander Mônico
Essa segunda espécie, descrita oficialmente em outro artigo científico, publicado no jornal ZooKeys, foi chamada pelos biólogos de “uma joia escondida na Amazônia”.
O trabalhoso processo para a descrição de uma nova espécie
Havia mais de uma década que novas espécies do gênero Ranitomeya não eram descritas. Essa é uma das evidências que comprova como é difícil o trabalho de pesquisadores na Amazônia. Para chegar à região que esses sapos-ponta-de-flecha têm como habitat, foram necessários vários dias de viagem.
“Para chegar lá pegamos um avião pequeno, que só voa para essa região duas vezes por semana. E aconteceu dele não conseguir pousar e daí precisamos esperar mais quatro dias para pegar o próximo. Depois, viajamos mais de dez horas num barco para poder subir o rio”, conta o biólogo Alexander Mônico, pesquisador de pós-doutorado no INPA.
Ele explica como foi longo e minucioso o processo para se confirmar que os sapos eram realmente novas espécies. Quem se deparou pela primeira vez com os espécimes e suspeitou que eles poderiam ser inéditos para a ciência foi Albertina Pimentel Lima, pesquisadora titular do INPA, durante expedição de campo*. Ela então entrou em contato com Alexander, que seguiu o trabalho para a análise dos anfíbios em laboratório e mais adiante, retornou à região do Juruá para realizar novas análises e coletas de amostras.
“Um dos primeiros os foi fazer o sequenciamento genético porque é através desse material de DNA que conseguimos bater o martelo se aquela é realmente uma nova espécie”, diz o pesquisador. Além disso, o canto também ajuda na diferenciação entre elas. “Embora o canto do gênero todo seja muito parecido, ele é um mecanismo de isolamento reprodutivo porque se a fêmea não reconhece o canto do macho ela não vai reproduzir com ele.”
Outro ponto que chamou a atenção dos cientistas foi que as duas espécies colocavam os girinos em folhas de uma planta específica, a bananeira brava, algo inédito para espécies desse gênero, que em geral usam troncos de árvores e bromélias para esse propósito.
Pequenos, coloridos e venenosos, os sapos-ponta-de-flecha são chamados popularmente assim porque em alguns lugares, como na Colômbia, a toxina de sua pele é usada por indígenas em dardos de zarabatana para a caça de presas.

Fotos: Mônico et all – Plos One 2025
*A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas foi a agência financiadora do projeto
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Foto de abertura: Alexander Mônico