Essa é uma tragédia que aconteceu ao longo das últimas décadas em vários lugares do mundo. Ao introduzir uma espécie exótica numa certa região, uma nativa acabou sendo extinta. Foi o que ocorreu com os caracóis polinésios, do gênero Partula. Encontrados originalmente em vales e floresta úmidas de ilhas no Oceano Pacífico Sul, como Taiti e Moreia, eles foram extintos há 30 anos na natureza devido à uma grande trapalhada realizada pelos seres humanos.
No ado, na década de 60, o governo da Polinésia sa permitiu que o caracol-gigante-africano fosse importado para servir como alimento. Todavia, alguns indivíduos escaparam e começaram a se reproduzir sem controle e devastar plantações locais.
Para combater a praga invasora, sem predadores naturais naquela parte do mundo, decidiu-se então por trazer outra espécie, o caracol-lobo-rosado ou caracol-canibal (Euglandina rosea).
E o que aconteceu? Esse último acabou com todas as espécies nativas, levando à extinção mais de 50 espécies e subespécies do gênero Partula, que ao comer restos de plantas em decomposição e fungos, desempenha um papel importante na manutenção da saúde das florestas.
Agora, quase três décadas após esse desastre ambiental, provocado pela mão humana, pesquisadores estão realizando a maior reintrodução de uma espécie já feita até hoje. Ela é considerada a maior por causa do número enorme de indivíduos sendo soltos de uma única vez: mais de 5 mil caracóis polinésios nascidos em 15 zoológicos do Reino Unido e dos Estados Unidos fizeram uma viagem de 15 mil km – e dois dias – para as ilhas da Polinésia sa.
“Apesar do seu pequeno tamanho, estes caracóis são de grande importância cultural, ecológica e científica – são os tentilhões de Darwin do mundo dos caracóis, sendo investigados há mais de um século devido ao seu habitat isolado proporcionar as condições perfeitas para estudar a evolução”, diz Paul Pearce-Kelly, curador da área de invertebrados da Sociedade Zoológica de Londres (ZSL) e coordenador do projeto de reintrodução.
Os caracóis polinésios têm apenas entre 1 e 2 cm, mas cada um deles, antes de embarcar rumo ao Pacífico Sul, recebeu uma pequena pinta de cor vermelha, com tinta refletora UV, para que eles possam brilhar sob a luz de lanternas ultravioletas e assim pesquisadores possam monitorar suas populações durante a noite.
Os últimos indivíduos sobreviventes de várias espécies de Partula foram resgatados no início dos anos 1990 por zoológicos de Londres e Edimburgo, a fim de iniciar o programa internacional de reprodução em cativeiro.
“Esta iniciativa de conservação colaborativa está, sem dúvida, ajudando a trazer essas espécies de volta da beira da extinção e mostra o poder conservacionista dos zoológicos para reverter a perda de biodiversidade. Com a natureza em todo o mundo cada vez mais ameaçada, esses pequenos caracóis representam uma esperança para a vida selvagem do mundo”, diz Pearce-Kelly.
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Fotos: divulgação ZSL