
Você se lembra da Dory, do desenho animado Procurando Nemo, e sua marcante falta de memória? Embora sua amnésia seja cativante e até mesmo confere humor para a narrativa, a realidade sobre as habilidades cognitivas de algumas espécies de peixes é muito mais intrigante do que se imagina. Pesquisa recente contrapõe o estereótipo de que peixes são “desmiolados“.
Durante anos, mergulhadores em uma estação de pesquisa no Mar Mediterrâneo notaram um comportamento curioso: os peixes locais seguiam e “roubavam” os alimentos de um mergulhador específico, ignorando outros.
Intrigados, biólogos da Sociedade Max Planck da área de Comportamento Animal (MPI-AB), na Alemanha, decidiram investigar se peixes selvagens têm mesmo capacidade de reconhecer pessoas.
Os experimentos foram projetados para responder a uma pergunta nunca antes feita sobre peixes selvagens: eles são capazes de diferenciar pessoas?
A equipe realizou testes em águas abertas, a cerca de oito metros de profundidade, em um local onde os peixes já estavam habituados à presença dos cientistas.
Na primeira fase experimental — o treinamento —, a mergulhadora Katinka Soller, usando um colete vermelho chamativo, alimentava os peixes enquanto nadava por 50 metros. Aos poucos, ela reduziu as dicas visuais, utilizando equipamento de mergulho mais simples e discreto, mas ainda escondendo a comida até que os peixes a seguissem por toda a distância.

Foto: MPI of Animal Behavior / Behavioural Evolution Lab
Dentre as diversas espécies de peixes presentes na área, duas delas se destacaram por sua curiosidade e disposição para aprender. Oblada melanura e Spondyliosoma cantharus não ocorrem no litoral do Brasil, mas seus parentes são chamados genericamente de sargo.
Embora conhecidas por serem consumidas, essas espécies de peixes surpreenderam ao seguir Soller consistentemente. A própria mergulhadora chegou a dar nomes a alguns indivíduos, como “Bernie” e “Alfie”, baseando-se em características morfológicas distintas.

e que os cientistas puderam reconhecer individualmente
Foto: Behavioural Evolution Lab / MPI-AB
Após 12 dias de treinamento, cerca de 20 peixes seguiam Soller de forma regular. Na fase seguinte, os pesquisadores testaram se eles poderiam distinguir Soller de outro mergulhador. Os resultados indicaram que eles não só reconhecem humanos individualmente, como também demonstram preferências baseadas em experiências anteriores.
Essa descoberta, publicada na Biology Letters – Wild fish use visual cues to recognize individual divers – evidencia que a interação entre peixes e humanos é mais sofisticada do que se imaginava, abrindo novas perspectivas sobre a capacidade de animais em reconhecer e se relacionar com as pessoas em seu ambiente natural.
A seguir, conheça os peixes “voluntários” da pesquisa e os biólogos que conduziram o experimento do reconhecimento humano:
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Foto (destaque): Maëlan Tomasek (uma selfie do autor do estudo, que aparece com um “voluntário” durante experimento realizado no Mar Mediterrâneo)