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Governo Trump faz demissão em massa de cientistas da NOAA, um dos principais institutos de pesquisa do clima do mundo

Governo Trump faz demissão em massa de cientistas da NOAA, um dos principais institutos de pesquisa do clima do mundo

Cerca de 800 funcionários da istração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) receberam um aviso por e-mail, na quinta-feira (28/02), que estavam demitidos e em pouco mais de uma hora perderiam completamente o o a seus computadores, que continham tanto dados pessoais como todas as informações de suas pesquisas.

O que aconteceu ontem na sede da NOAA, em Silver Spring, a cerca de 40 minutos de Washington D.C., capital do país, faz parte da onda de demissões em massa em órgãos públicos, promovida pelo governo de Donald Trump e pelo Departamento Governamental de Eficiência (DOGE), liderado pelo empresário e bilionário Elon Musk, apontado pelo presidente para fazer uma “limpa geral” na istração, que ele considera “corrupta e burocrática.”

A NOAA é um dos mais importantes institutos de pesquisa científica relacionada ao clima do mundo. Até hoje, seus estudos eram a base para importantes tomadas de decisão sobre políticas públicas para a conservação ambiental e o combate às mudanças climáticas.

O fechamento da NOAA ou o seu desmantelamento já era recomendado pelo Projeto 2025, um documento com 900 páginas, elaborado no ano ado pela fundação conservadora Heritage Foundation, e que traçava planos para a gestão dos Estados Unidos sob um governo republicano. Apesar de Trump ter negado várias vezes seu vínculo com ele, está seguindo à risca suas diretrizes, que considerava a istração Oceânica “uma das principais impulsionadoras da indústria alarmista sobre as mudanças climáticas.”

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Cortes em pesquisas e viagens internacionais

A expectativa é que mais demissões aconteçam nesta sexta-feira na NOAA, que deve perder cerca de 10% de seus colaboradores. Os que perderam o emprego até agora são aqueles chamados de “probationary”, em inglês, que estavam cumprindo um período probatório antes de serem oficialmente efetivados, ou seja, que podiam ser demitidos imediatamente, sem justa causa. Acontece que em muitos órgãos federais do país, essa situação empregatícia pode durar até três anos. A mesma regra também se aplica para quem foi promovido ou mudou de cargo, alguns que trabalhavam há décadas na instituição.

“Todos os funcionários federais em estágio probatório no EMC [Centro de Modelagem Ambiental] da NOAA, responsáveis ​​por manter todos os sistemas de modelos meteorológicos dos EUA funcionando, foram demitidos com aviso prévio de 1 hora. E isso inclui eu e meus colegas. Não iremos embora em silêncio porque nos importamos com a missão da NOAA de proteger o público”, escreveu uma das funcionárias demitidas, em seu perfil no BlueSky.

Para aqueles que permanecem na NOAA, o ambiente é de muito medo e tensão. Ninguém quer ter seu nome divulgado em matérias jornalísticas, temerosos de represálias. Em muitos órgãos federais, funcionários são proibidos de comentar mudanças e demissões. Além da perda de mentes que são peças-chave no entendimento da atual crise climática, as que ficam terão dificuldades em continuar seu trabalho. Sob Trump, estão canceladas viagens e participações em congressos internacionais, por exemplo, e foram cortados fundos de muitas pesquisas, sobretudo aquelas com foco no aquecimento global – que segundo o atual presidente, “não existe.”

“Não há nenhum plano ou pensamento sobre como continuar a fornecer ciência ou serviço sobre clima, tempestades e eventos severos, conservação e gerenciamento de nossas costas e vida oceânica e muito mais”, lamentou Andrew Rosenberg, ex-diretor do Serviço Nacional de Pesca Marinha da NOAA, em entrevista ao jornal The Guardian. “Não vamos fingir que isso é sobre eficiência, qualidade de trabalho ou economia de custos porque nenhuma dessas falsas justificativas é remotamente verdadeira.”

A ciência do mundo inteiro perde

Esta semana o primeiro impacto da atual gestão negacionista de Donald Trump já foi sentido internacionalmente. Além de ter anunciado a saída do Acordo de Paris nas primeiras horas após sua posse, o presidente proibiu o envolvimento de pesquisadores ligados ao governo no Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão científico da ONU. Com isso, cientistas americanos foram impedidos de estar presentes na reunião que aconteceu esta semana em Hangzhou, na China.

“A reunião em curso na China foca justamente na identificação dos temas relacionados à mudança do clima considerados relevantes para os países (como seu impacto, riscos e medidas de resposta), que os autores avaliarão nos próximos cinco anos”, diz Thelma Krug, vice-presidente do IPCC de 2015 a julho 2023. “Os governos não interferem na avaliação científica feita pelos autores selecionados, mas são relevantes na identificação de temas que carecem de maior profundidade para apoiar os processos de decisão, inclusive nas COPs”, completa.

Em um editorial publicado há poucos dias, a Nature, uma das mais renomadas revistas científicas do mundo, afirma que Trump está destruindo a ciência e as instituições internacionais; e a comunidade global de pesquisa deve se posicionar contra esses ataques.

No texto, que tem como título “Trump 2.0: um ataque à ciência em qualquer lugar é um ataque à ciência em todo lugar”, a publicação menciona uma carta enviada a Trump há mais de um mês, na qual se pede que o presidente não destrua “o legado e as conquistas da nação na ciência, e impulsione ainda mais a pesquisa em prol da prosperidade e da segurança”. Todavia, o editorial reconhece que o caminho oposto parece ter sido o escolhido, “em um ataque sem precedentes à ciência, às instituições de pesquisa e às organizações e iniciativas internacionais vitais.”

As demissões em massa, como as feitas na USAid e o Instituto Nacional de Saúde, e a censura a informações sobre clima e à diversidade em websites do governo já duram semanas. Em pouco mais de um mês, a istração Trump já removeu mais de 8 mil páginas da internet de mais de uma dúzia de agências do o público, incluindo recursos sobre saúde pública, preparação para desastres, justiça ambiental e investimentos em programas no exterior. Muitas dessas páginas desapareceram completamente ou reapareceram com o .

“Ao demitir funcionários essenciais que trabalham incansavelmente em nome do povo americano, o presidente Trump e Elon Musk estão brincando de política com nossa segurança nacional e pública”, criticou Gabe Amo, parlamentar do Congresso, em um comunicado.

As batalhas na justiça para derrubar as ações de Trump já começaram. O juiz federal William Alsup, de uma corte da Califórnia, suspendeu temporariamente as demissões feitas pelo governo. Segundo seu parecer, o Departamento de istração de Pessoal (OPM) “não tinha o poder de ordenar que agências federais demitissem quaisquer trabalhadores, incluindo funcionários em estágio probatório.”

Nas últimas semanas, diversos sindicatos e organizações também entraram com ações judiciais para reverter as demissões em massa.

*Texto atualizado às 12h55 para incluir informação sobre as ações na justiça

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Foto de abertura: divulgação White House (Flickr)

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