Em novos registros e confirmação de que a gripe aviária agora é uma doença que não atinge mais somente aves, mas também outras classes de animais, autoridades da Inglaterra anunciaram a detecção do vírus H5N1 em uma ovelha (Ovis aries) na região de Yorkshire, e pesquisadores da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, da contaminação de linces-pardos (Lynx rufus).
Segundo artigo científico publicado pelos cientistas da instituição norte-americana, dezesseis linces selvagens foram capturados no estado de Nova York e em metade deles havia anticorpos contra a influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP), comumente chamada de gripe aviária. Quatro deles apresentaram evidências de exposição ao H5N1 e outros cinco a outras cepas do vírus.
Um lince que inicialmente testou negativo no momento da captura morreu cinco semanas depois, vítima da doença. Por que esse animal em particular veio a óbito e os outros sobreviveram ainda é um mistério.
“Embora seja notável e promissor que alguns linces tenham sobrevivido à exposição, uma conclusão importante é que esses animais podem morrer da infecção”, diz Jennifer Bloodgood, professora do Departamento de Saúde Pública e Ecossistêmica e veterinária de vida selvagem no Cornell Wildlife Health Lab. “Nossa pesquisa destaca a presença do vírus da gripe aviária em linces selvagens, levantando preocupações sobre o impacto potencial na saúde da população.”
Já o caso do Reino Unido envolveu uma única ovelha, e é o primeiro documentado até hoje no mundo entre caprinos. A descoberta da contaminação só foi feita porque exames de rotinas eram feitos após aves terem sido infectadas com o H5N1 na mesma fazenda.
Por questão de segurança, a ovelha foi abatida. “Embora o risco para o rebanho permaneça baixo, peço a todos os donos de animais que garantam uma limpeza escrupulosa e que relatem imediatamente quaisquer sinais de infecção à Agência de Saúde Animal e Vegetal”, recomentou Christine Middlemiss, chefe do Departamento de Veterinária do Reino Unido.
“Globalmente, continuamos a ver que mamíferos podem ser infectados com a gripe aviária”, afirma Meera Chand, diretora da área de infecções de emergência da Agência de Saúde. “No entanto, evidências atuais sugerem que os vírus da gripe aviária que estamos vendo circulando ao redor do mundo não se espalham facilmente para as pessoas – e o risco de gripe aviária para o público em geral continua muito baixo”, esclarece.
Pior epidemia mundial de gripe aviária
As aves migratórias, principalmente as aquáticas, são apontadas como as principais responsáveis pela transmissão da gripe aviária. Nelas o H5N1 é altamente contagioso. Poucos dias após a contaminação, os sintomas já ficam visíveis, como paralisia e inchaço de partes do corpo, e vários órgãos param de funcionar. O sistema neurológico é comprometido e os animais começam a apresentar tremores. A taxa de mortalidade chega a 90%.
Em geral, na época do inverno no Hemisfério Norte, há um aumento de casos, já que as aves migratórias rumam para o sul em busca de temperaturas mais amenas, carregando o vírus com elas.
No mundo todo, este é o pior surto de gripe aviária já registrado. Milhões de animais morreram em países do Hemisfério Norte, e na América do Sul, onde estima-se que mais de 500 mil aves vieram à óbito, além de 20 mil leões-marinhos só no Chile e no Peru (no Brasil houve vários casos também no Rio Grande do Sul em 2023).
Nos Estados Unidos, em maio do ano ado, pesquisadores confirmaram oficialmente que um trabalhador de uma fazenda contraiu a gripe aviária após contato com uma vaca infectada. O caso aconteceu no Texas, mas ele apresentou apenas uma inflamação nos olhos, sem nenhum problema respiratório.
De acordo com um artigo publicado no The New England Journal of Medicine, uma das publicações médicas mais respeitadas do mundo, infecções humanas esporádicas pelo vírus da gripe aviária de alta patogenicidade já foram notificadas em 23 países ao longo de mais de 20 anos.
Infelizmente, já se sabe que o vírus, inicialmente apenas identificado em aves, agora contamina também mamíferos e pode ser ado entre espécies diferentes, como por exemplo, de vacas para felinos. Também em 2023, gatos que ingeriram leite cru, ou seja, não pasteurizado, morreram, vítimas da gripe aviária (saiba mais aqui).
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Fotos de abertura: pixabay/domínio público (ovelha) e Michael Jerrard on Unsplash (lince)
