Os tamanduás-bandeira são animais de hábitos extremamente reservados, por isso, os registros (fotos e vídeos) realizados pelo biólogo e guia de natureza Maurício Abib, são inéditos.
O flagra aconteceu em 4 de outubro de 2024, um dos três dias de observação de vida selvagem na Fazenda Caiman, próximo da cidade de Miranda, no Mato Grosso do Sul, logo após a retomada do turismo que veio 60 dias depois do incêndio que queimou 85% do seu território (contamos aqui).
“Eu só divulguei esses registros agora, quando retornei ao Pantanal. Os arquivos ficaram esquecidos no meu HD, daí recentemente os resgatei quando revia tudo que tenho gravado”, conta Mauricio, justificando a demora na divulgação.
O biólogo publicou as imagens no Instagram e comentou sobre o registro com os pesquisadores do projeto Bandeiras e Rodovias, que celebraram e, também, compartilharam os registros.
“Nosso projeto atua desde 2019 e, em todo esse tempo, nossa equipe nunca havia presenciado uma cena como esta, em campo — um verdadeiro tesouro para a ciência e para os esforços de conservação da espécie!”.
Maurício viu o casal de tamanduás por dias seguidos e, a priori, pensou se tratar de mãe e filhote devido ao tamanho do macho, menor que a fêmea – “era muito visível” – e a comportamento tão discreto e especial (assista no final deste texto).
Ele explica: “Já havia avistado filhotes quase independentes descendo da fêmea e apresentando um comportamento similar, por isso não tive dúvida. Também por falta de informações, claro!”. E continua: Esse comportamento também deve estar relacionado ao cortejo. Possivelmente, ele devia estar tentando chamar a atenção da fêmea”.
O guia conta também que pesquisou sobre cópula de tamanduás-bandeira em artigos científicos e encontrou um (em Goiás, de 2014), que descrevia o “comportamento agonístico agressivo” de uma fêmea – que ainda carregava um filhote -, devido a tentativa de um macho de copular com ela. “Os demais artigos que encontrei descrevem a cópula dessa espécie somente em cativeiro”.
De acordo com o projeto Bandeiras e Rodovias, “estudos indicam que essa espécie é solitária, exceto durante o período de acasalamento e no cuidado parental. A gestação dura cerca de 190 dias, e nasce apenas um filhote por vez, que permanece com a mãe por aproximadamente seis meses”.
Caso o encontro tenha sido bem-sucedido, a qualquer momento Maurício e os turistas que ele guia podem encontrar a fêmea carregando o filhote. Mas como seria possível saber que é ela? O biólogo responde: “É possível identificar e reconhecer indivíduos da espécie pelas características únicas nos tamanhos das faixas laterais preta e branca e nas manchas das patas dianteiras”.
E finaliza, tocado pela destruição do Pantanal pelo fogo, que ele viu de perto: “Importantíssimo destacar a sobrevivência desses animais frente ao aumento das secas e queimadas que vêm afetando o bioma, o Brasil e o mundo”.
Assista, a seguir, o momento da cópula entre os tamanduás-bandeira no flagrante de Maurício Abib publicado pelo projeto Bandeiras e Rodovias no Instagram:
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Foto (destaque): Maurício Abib
