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Joaquin Phoenix estreia série de curtas que destacam o papel dos indígenas na proteção das florestas e a emergência climática

O curta-metragem Guardiões da Vida se a numa sala de cirurgia. Os médicos e enfermeiros estão empenhados em salvar o paciente que corre risco de vida. Seu coração parou de bater. Eles tentam de tudo, mas não conseguem e se rendem. Horário da morte: meia noite. Mas o que não percebem é que uma das enfermeiras, que pouco atuou durante a intervenção, os observa. E não desiste. Enquanto todos se preparam para deixar o centro cirúrgico, derrotados, ela sobe em uma maca e dizendo números, fecha os olhos e parece manter suas mãos sobre o paciente, que se restabelece. A câmera está focada em seus olhos.

É neste ambiente inusitado que o primeiro episódio da série de 12 curtas-metragens, idealizada e produzida pelas organizações Amazon Watch e Extinction Rebellion – em colaboração com a Mobilize Earth -, apresenta a Amazônia em agonia e a profunda relação dos povos indígenas com ela.

O ator Joaquin Phoenixvencedor de três prêmios cinematográficos pelo filme Coringa: Globo de Ouro, Bafta e Oscar, nos quais fez belos e emocionantes discursos -, interpreta o cirurgião chefe.

O diretor, Shaun Monson, explica que, “em vez de focar no desmatamento, no derretimento dos glaciares e na extinção de espécies, usamos as histórias como metáforas”. E acrescenta: “A Amazônia é chamada de pulmão ou coração do mundo, mas, no lugar de imagens documentais, propusemos um ambiente de emergência com médicos e enfermeiras tentando salvar um paciente invisível com insuficiência cardíaca sistêmica. A reviravolta do curta não é apenas revelar quem são os paramédicos, mas quem eles tentando salvar”.

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Entre médicos e enfermeiros que acompanham Phoenix no filme de apenas dois minutos, estão atores de Hollywood ou de séries de TV, como Matthew Modine, Q’orianka Klicher, Rosario Dawson, Oona Chaplin, Adria Arjona, além de Albert Hammond Jr., integrante da banda The Strokes.

Desculpe o spoiller, mas nada do que eu conte aqui pode tirar a emoção do filme. Q’orianka Kilcher (que protagonizou o filme Pocahontas), a atriz que interpreta a médica indígena (abaixo), revelou que, como atriz indígena, sentiu uma forte responsabilidade de usar sua influência para “ampliar vozes que raramente são ouvidas, incluindo todos os defensores indígenas ao redor do mundo, que são os protetores de nossa Mãe Terra, da floresta amazônica, de toda a biodiversidade e animais”.

Sônia Guajajara, líder indígena e coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), considera o filme um acontecimento muito importante para este momento de tantas ameaças aos povos indígenas: “Ele é uma prova do engajamento artístico internacional em torno da Amazônia e do entendimento do papel dos povos indigenas na defesa das florestas, do planeta e da vida. Precisamos dessa solidariedade planetária e do e daqueles que podem nos ajudar a ampliar nossas vozes, dando visibilidade à nossa luta e denunciando a destruição da floresta e a violência contra quem defende a sua existência”.

Para Phoenix, o filme é um chamado à ação. “O fato é que estamos cortando e queimando florestas tropicais e vendo os efeitos negativos dessas ações em todo o mundo. As pessoas não percebem que ainda há tempo, mas apenas se agirmos agora e fizermos mudanças significativas. Isso inclui nossas decisões de consumo, porque não podemos esperar que os governos resolvam essas questões para nós. Não podemos esperar até a próxima eleição para fazer essas mudanças. Temos uma responsabilidade pessoal de fazer mudanças em nossas próprias vidas e agir agora”.

Engajado em causas ambientais e pelos animais, no mês ado ele foi preso em um protesto organizado pela atriz Jane Fonda (presa inúmeras vezes) em Washington DC, nos Estados Unidos, quando falou sobre mudanças climáticas e o que comemos. Ele é vegano.

Movimento pela vida

Os idealizadores da iniciativa querem que a série se transforme num movimento pela vida, a partir da tradução inusitada dos principais temas que já não fazem mais parte de previsões cientificas, nem do cinema catástrofe, mas estão presentes na vida de habitantes de todos os continentes, neste exato momento: a perda acelerada da biodiversidade, a explosão do desmatamento, as secas prolongadas, as inundações devastadoras e os incêndios que destroem as principais florestas tropicais do mundo. A emergencia climática.

Ao falar do primeiro episódio, a diretora-executiva da Amazon Watch (organização ambiental e de direitos humanos que atua com povos indígenas da Amazônia), Leila Salazar-López, quase discorda do diretor”: “uma mulher indígena que salva a Amazônia não é uma metáfora, é a realidade da floresta”. E destaca: “A floresta amazônica é o coração do nosso planeta e os povos indígenas são os guardiões essenciais para a manutenção da floresta e para o nosso futuro comum”.

Já Gail Bradbrook, uma das fundadora da ONG Extinction Rebellion, acredita que este pode ser um dos primeiros sinais de que Hollywood está empenhada em contar a verdade sobre a gravidade da crise climática e ecológica: “Ainda há uma desconexão entre as coisas ruins e a ação que precisa acontecer. Mas essa lacuna está diminuindo. Há pessoas mais importantes começando a romper barreiras, a dizer a verdade e agir de verdade”.

O tema do próximo episódio é bastante interessante: negação. Levanta questões sobre o motivo pelo qual nós, como espécie, escolhemos ignorar os sinais de alerta em vez de decidir agir agora na emergência climática e ecológica.

Fiquei com a impressão de que a última cena do primeiro episódio abriu o caminho para o segundo. Assista abaixo e depois comente se você teve a mesma impressão.

Fotos: Divulgação

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DeniseW Moreira
DeniseW Moreira
5 anos atrás

Grande iniciativa! No entanto, não se trata apenas da Floresta Amazônica, trata-se de “uma” emergência climática global.
Sugiro analisarmos a Carta da Água. A questão não se limita ao meio ambiente, sustentabilidade , consciência ambiental, solidariedade, …
A questão é geopolítica, econômica. Mais uma possibilidade de legitimação da exploração das riquezas naturais em nome da “proteção do manancial hídrico potável”. A carta legitima a intervenção internacional em defesa da água. Estejamos atentos, para que nossos esforços não sejam usados por empresas e governos inescrupulosos.

Adriana Kelly Fontes da Silva
Adriana Kelly Fontes da Silva
2 anos atrás

Seu comentário é oportuno pq não bem disse não apenas uma questão de emergência climática, mas, de interesses geopolítico. Sempre estivemos na mira de vários governos internacionais com o discurso a Amazônia é nossa, quando na verdade o discurso possuí outras intenções. Países que tem sede na Amazônia são os mesmo que já destruíram suas florestas, população indígena e meio ambiente. É preciso combater o desmatamento e o ataque a fauna e a flora mas é fundamental que estejamos alerta para governos inescrupulosos.

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