
Estrutura elevada para evitar alagamentos, além de insetos e roedores; telhas recicláveis que oferecem conforto térmico; ventilação natural cruzada e design modular, que facilita a expansão da casa e seu transporte. Estas são as principais características da Moradia Resiliente desenvolvida pela TETO Brasil, em parceria com moradores de favelas de diversas regiões do país, com o intuito de enfrentar os efeitos das mudanças climáticas.
No último fim de semana, a primeira unidade foi instalada na Favela City, no Campo Limpo, na zona sul do município de São Paulo, com total protagonismo de voluntários e de integrantes da comunidade.

Foto: Camila Calcagnini / TETO Brasil / divulgação
Adaptação constante
A primeira casa do projeto beneficiou uma família de moradores da Favela City, que sofre com enchentes frequentes. “Esta casa é uma evolução muito grande”, disse Mirielle Francisco de Souza, que ajudou a construir o próprio domicílio, com seu companheiro, Roberto de Oliveira Santos. “Agora, a gente pode sair para trabalhar sem a preocupaçãode perder tudo com as chuvas outra vez”.

Foto: Camila Calcagnini / TETO Brasil / divulgação
Camila Jordan, diretora executiva da TETO Brasil, destacou, na ocasião, que “a crise climática exige um processo de adaptação constante. Esta primeira moradia é um avanço, mas, para superar esse problema, é preciso uma atuação mais ampla, envolvendo o poder público e a participação da sociedade civil, principalmente nas favelas hiper vulnerabilizadas”.
Comunidades hiper vulnerabilizadas
Favelas e comunidades urbanas estão entre as áreas mais impactadas pelos efeitos da crise climática. Entre elas, estão comunidades hiper vulnerabilizadas, onde as moradias ainda são feitas de restos de madeira e sucata, as ruas são de terra e o o à água e saneamento é escasso, seguem sem políticas públicas pensadas para atender sua realidade.
Foi neste contexto que a TETO Brasil, organização que se dedica desde 2006 à superação da pobreza por meio da construção de casas e soluções de infraestrutura emergenciais nas favelas mais invisibilizadas do país, dá início ao projeto de construção de moradias resilientes.
O novo modelo adotado pela ONG tem o objetivo de oferecer maior conforto e segurança. Seu custo é um pouco mais elevado – cerca de 40% – do que as moradias tradicionais oferecidas pela TETO. Entretanto, ao longo do tempo, essa diferença diminui para 10%, em razão da maior durabilidade dos materiais.
“Os moradores dessas favelas são os primeiros atingidos por tragédias ambientais como as que aconteceram do sul ao norte do país, este ano. Por isso, o projeto de moradias resilientes é tão urgente e revolucionário”, destaca Camila Jordan, diretora executiva da Teto Brasil.
“Não podemos mais ignorar a emergência diária na qual as pessoas sobrevivem! Precisamos promover melhores condições de vida às famílias que não podem mais morar num piso de terra, em um barraco feito de restos de sucata e madeira. Sem soluções como esta, resistentes às ondas de chuva e calor, as famílias correm risco de vida”, completa a especialista.
Versão piloto e parcerias
Antes da construção em São Paulo, a TETO implantou uma versão piloto do projeto em uma comunidade em Recife, Pernambuco, para testar metodologias de construção e treinar o voluntariado jovem mobilizado pela organização para multiplicar essas construções.
Como em todos os projetos da organização, a participação das comunidades é essencial. E, neste caso, os moradores não só aprendem a construir as casas, como a adaptá-las, o que os torna mais capazes de enfrentar os desafios impostos pelas mudanças do clima.

a participação da comunidade é essencial nos projetos da organização
Foto: Camila Calcagnini / TETO Brasil / divulgação
Para Camila, “o desafio da adaptação climática vai além de soluções técnicas; é a construção coletiva de soluções resilientes que fortalece nosso futuro nas cidades”. E ela complementa: “A questão da moradia precisa ser central para a construção de cidades adaptadas aos desafios climáticos que já estamos enfrentando e vamos enfrentar cada vez mais. A moradia é uma das peças centrais desse imenso quebra-cabeça”.
Desenvolvida em parceria com a iniciativa Roof Over Our Heads e o Bank of America, a Moradia Resiliente também está sendo construída pela TETO TECHO em outros países da América Latina.
Como é a moradia resiliente?
A casa resiliente foi projetada com materiais e técnicas que oferecem maior conforto térmico e segurança aos moradores, reunindo outras características que a tornam mais resistente a extremos climáticos. A seguir, veja os detalhes que definem a obra:
- Estrutura Elevada (Pilotis): eleva a moradia, reduzindo o impacto de alagamentos e ajudando a prevenir a entrada de insetos e roedores;
- Painéis Plastificados: melhoram o conforto térmico e proporcionam resistência a fortes chuvas e ventos;
- Telhas Recicláveis: contribuem para o conforto térmico e acústico; o uso de materiais reciclados diminui o impacto ambiental;
- Ventilação Natural: “efeito chaminé” e ventilação cruzada controlam a umidade e reduzem a propagação de doenças, mantendo a temperatura agradável; e
- Modularidade e Sustentabilidade: o design modular facilita o transporte, reduz a pegada de carbono e permite a expansão da casa conforme a necessidade das famílias.
Trata-se de um modelo inovador, que visa não apenas mitigar o impacto dos desastres ambientais, mas também empoderar as comunidades para enfrentarem o futuro.
“Essas soluções não resolvem todas as necessidades, mas representam um o essencial para proteger as famílias de novos eventos extremos”, enfatiza Camila.
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Foto (destaque): Camila Calcagnini / TETO Brasil / divulgação