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Novo grupo de bugios é reintroduzido no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro

Novo grupo de bugios é reintroduzido no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro

Em 2015, como contamos na época, após 100 anos, bugios voltaram ao Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro. A soltura dos macacos foi um marco, um longo processo de planejamento e preparação para realizar a refaunação desse trecho da Mata Atlântica, já que naquele ponto ela era considerada uma “floresta vazia”, termo usado por biólogos para se referir a habitats naturais como esses onde não existem mais animais de médio e grande porte.

Antes dos bugios, a equipe da ONG Refauna* já havia reintroduzido cutias no Parque da Tijuca, considerado a maior floresta urbana do mundo, com uma área de 40 km2.

Até agora eram oito bugios vivendo ali. Seis deles eram filhotes de um casal introduzido em 2015. Segundo biólogos, a taxa de quase um nascimento por ano é excelente, superando o índice de outros lugares naturais.

E oito anos depois da primeira soltura de bugios, mais um grupo desses primatas foi levado para o parque com o objetivo de aumentar a população da espécie. Na última terça-feira (02/01) sete indivíduos ganharam um novo lar. Eles são um macho e seis fêmeas. O líder do bando é Max, com idade estimada entre 14 e 15 anos, e Mel a matriarca, também conhecida como Sem Rabo (saiba mais sobre suas histórias logo abaixo).

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A expectativa é que os dois grupos interajam e não apenas gerem novos filhotes, mas também ajudem na segurança genética da espécie. Além disso, esses animais prestam um importante papel ambiental, a da dispersão de grandes sementes (entenda mais sobre a função do bugio na floresta ao final deste texto).

“Precisamos recuperar a população de bugios, que são um dos 25 primatas mais ameaçados do mundo. Os animais reintroduzidos agora são o primeiro grupo liberado depois da vacinação contra a febre amarela, cuja epidemia em 2017 afetou fortemente o número desses animais no Sudeste, levando à criação de um comitê de manejo integrado de bugios. Graças a uma parceria com a Fiocruz, foi adaptada a vacina da febre amarela de humanos para os primatas, garantindo a proteção dos bugios que serão soltos no Parque”, explica Marcelo Rheingantz, diretor-executivo do Refauna e biólogo da UFRJ. 

Nesse primeiro mês de soltura, o trabalho de monitoramento dos novos moradores do Parque Nacional da Tijuca será diário.

Abaixo o vídeo divulgado pela Refauna que mostra o momento em que o segundo grupo de bugios ganhou a liberdade na semana ada:

Histórias de superação

Tanto Mel como Max têm histórias de vida sofridas, mas que mostram a resiliência da espécie.

Segue o texto da Refauna, que conta a trajetória de ambos até a chegada no Parque Nacional da Tijuca.

“Max vivia no entorno do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, sendo líder do grupo que fazia parte. Em 2017, ele caiu da árvore em cima de uma rocha, quebrando o fêmur. Ele foi resgatado e depois levado para o Centro de Primatologia do Inea (RJ). Max ou por uma cirurgia, colocou uma placa na perna para estabilizar a fratura. A placa foi rejeitada e teve que ser removida e ele perdeu muito peso e quase morreu de inanição. Após alguns meses, ele se recuperou e voltou a usar a perna, ganhou peso e retomou seu comportamento normal.

Mas Max não poderia retornar para o grupo dele, já tinha ado muito tempo e o bando já tinha novo líder. Foi quando, em 2017-2018 ele ganhou a companhia da fêmea mais velha do grupo, Mel, que estava grávida e deu à luz à Hope, filha de outro macho… Desde então, os três viraram oito.

Na terça, quando liberamos os bugios, Max foi o primeiro a sair do recinto, e imediatamente subiu nas árvores e foi reconhecer a área e marcar o território, além de afastar os macacos-prego que estavam no entorno. Ele deu um show de liderança e está guiando as fêmeas do grupo a viver em vida livre”.

“Mel também tem uma historia de superação. Esta fêmea também era de vida livre e foi resgatada porque tinha uma ferida grande na cauda. Ela teve a cauda amputada e foi encaminhada ao Inea (RJ). Lá, ela foi juntada em 2016-2017 com um macho que chegou a ser liberado na Tijuca, César, mas teve que retornar para cativeiro por interação com visitantes.

Mel seria transferida em 2017 para a Tijuca, mas entrou em trabalho de parto, e teve que ar por uma cirurgia para retirada do feto, que acabou não sobrevivendo. Como ela não tinha conseguido dar à luz, ela não foi transferida naquela época, por conta do risco de ficar grávida e não conseguir dar à luz de novo, o que colocaria ela e o filhote em risco de vida em vida livre.

No RJ, Mel ficou grávida de novo, mas o seu companheiro acabou retirado do recinto durante o período. Ela deu à luz à Hope, a outra femêa adulta do grupo… Mel é a matriarca desta família tão importante para nós e está, depois de oito anos, começando a viver os desafios da vida livre de novo”.

Novo grupo de bugios é reintroduzido no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro

O líder do novo bando, Max
(Foto: Marcelo Rheingantz)

O papel dos bugios no Parque Nacional da Tijuca

O bugio (Alouatta guariba ) é um mamífero de porte grande, que pode pesar entre 8 e 9 kg. É o segundo maior primata da Mata Atlântica. Vive no topo de árvores mais altas.

Os machos têm pelos marrom avermelhados, com tons de dourado, enquanto as fêmeas possuem tom mais escuro, quase preto. Seus ruídos são altíssimos e servem, entre outras coisas, para espantar o inimigo. O período de gestação dos filhotes é de aproximadamente 140 dias. Após o nascimento, o filhote fica agarrado às costas da mãe durante os primeiros meses de vida.

Vegetarianos, os macacos desta espécie alimentam-se de frutos, folhas, brotos e sementes. Suas fezes são importantíssimas para a fertilização do solo da floresta. Elas são usadas por besouros – conhecidos como rola-bostas – , que fazem pequenas bolas com elas, levando nutrientes para a terra.

Novo grupo de bugios é reintroduzido no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro

O macho Max em seu novo lar
(Foto: Marcelo Rheingantz)

*A reintrodução dos bugios na Floresta Nacional da Tijuca é resultado do trabalho conjunto entre a Refauna, Parque Nacional da Tijuca, Centro de Primatologia do Rio de Janeiro do INEA (RJ-INEA), Fiocruz, Centro de Recuperação de Animais Selvagens da Universidade Estácio de Sá, Comitê de Manejo Integrado de Alouatta, do B/ICMBio, UFRJ, UFRRJ, IFRJ-RJ, Ecomimesis e National Geographic Society. 

**Com informações e entrevista contidas no texto divulgado pelo ICMBio

Foto de abertura: Marcelo Rheingantz

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