Há praticamente um ano, após uma das experiências mais tocantes e intensas que já vivenciei na natureza, postei aqui um relato sobre minha vista ao Pantanal logo após os trágicos incêndios que atingiram a região em 2020. Hoje, recebo a notícia de que uma das fotos que tirei naquela viagem ganhou o prêmio de primeiro lugar na categoria “Paisagem” do Concurso de Fotos The Nature Conservancy 2021. A imagem foi selecionada dentre mais de 100 mil vindas de 158 países. Compartilho com vocês as histórias por trás desta imagem, junto com algumas reflexões pessoais.
Era nosso primeiro dia adentrando o Pantanal Norte rumo ao Porto Jofre, onde aríamos alguns dias procurando onças-pintadas e o que mais a região nos oferecesse. Ainda na primeira parte da Rodovia Transpantaneira, encontramos às margens da pista a carcaça de um jacaré sobre o solo ressecado e rachado. Como tínhamos horário marcado para chegar ao nosso destino do dia, paramos rapidamente e fiz apenas algumas fotos em solo, com a câmera normal. Não havia tempo suficiente para explorar melhor o tema com o drone, por exemplo.
Fiquei satisfeito com os registros que consegui fazer – porém, durante os próximos dias, não saía da minha cabeça a imagem desta mesma cena vista de cima. A sensação de arrependimento por não ter dedicado mais tempo a registrar um momento tão icônico só não foi maior pois eu sabia que, na nossa volta dias depois, o jacaré ainda estaria lá, cada vez mais esturricado…
Uma das imagens que fiz no primeiro dia em que encontramos o jacaré morto
Terminada nossa programação, pegamos a Transpantaneira de volta para Cuiabá e tivemos tempo para fazer mais algumas imagens ao longo do trajeto. Eu queria captar outras, aéreas, dos efeitos dos incêndios, então aproveitei para voar com o drone. Gastei toda a carga da primeira bateria e, mais à frente, encontramos paisagens que também mereciam registro. Coloquei a segunda – e última – bateria disponível, levantei voo para fazer mais algumas fotos e pousei o equipamento ainda com um restinho de carga.
Quando chegamos no local onde estava o jacaré morto, restava cerca de três minutos de autonomia de voo para o drone, tempo suficiente para que eu fizesse um último, finalmente registrasse aquela cena que tanto vislumbrei e pousasse no limite de segurança do aparelho. Foram nossas últimas fotos feitas durante a viagem. Missão cumprida.
Hoje pela manhã, ao receber o e-mail da TNC informando que esta foto havia sido premiada, as lembranças daquela viagem tão intensa voltaram à tona e fui tomado por um misto de sentimentos. Afinal, foi a primeira vez que ganhei prêmio em um concurso através da imagem de um animal morto – e de forma tão dramática. Provavelmente, qualquer pessoa que decida levar a fotografia a sério tem como objetivo inicial eternizar momentos agradáveis, alegres, bonitos – ao menos quando começa a pegar gosto por esta forma de arte. Comigo não foi diferente.
Agora, me pego filosofando novamente sobre a força de uma fotografia, o que ela desperta nas pessoas e o poder transformador que pode ter – seja uma bela imagem de um bicho cativante em plena atividade, seja uma cena trágica de um animal que agonizou sob o calor intenso da seca no Pantanal. Independente do tipo de cena retratada, se as pessoas se sensibilizarem ao verem minhas imagens e assumirem uma postura de respeito, valorização e iração para com as coisas naturais, considero que minha missão como fotógrafo de natureza esteja cumprida.
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