Hanan Al Hroub cresceu no campo de refugiados Dheisheh, em Bethlehem, cidade da Palestina, ao sul de Jerusalém. A violência fazia parte do seu dia a dia. Mas foi neste ambiente, em meio ao conflito histórico entre judeus e palestinos, que nasceu seu desejo de se tornar professora. “Foi aquela vida que me deu a persistência e resiliência que precisava para enfrentar desafios. Ser uma criança em um campo de refugiados é diferente de ser uma criança em qualquer outro lugar no mundo”, disse ela à Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês). “As crianças em outros lugares podem desfrutar a infância, mas não as crianças palestinas”.
Atualmente Hanan é professora primária numa escola pública na cidade de Ramallah. No domingo (13/03), em cerimônia em Dubai, a palestina ganhou US$ 1 milhão ao receber o Global Teacher Prize. Criada em 2014, a premiação, concedida pela Varkey Foundation, tem como objetivo valorizar a profissão do professor, reconhecendo práticas inovadoras e exemplares nas escolas e desta maneira, inspirando estudantes, comunidades e meio acadêmico. Este ano, entre os 50 finalistas, estava o brasileiro Márcio Andrade Batista (leia aqui entrevista do professor ao Conexão Planeta)
Em um vídeo gravado, o Papa Francisco anunciou o nome de Hanan Al Hroub como a grande vencedora do prêmio, que é considerado um Nobel da Educação. Ela concorreu com outros 8 mil candidatos de 148 países. Entre os dez finalistas, foi a única docente do Oriente Médio.
Além de ter crescido em meio a um conflito armado, foi justamente um ato de violência que determinou a mudança de rumo na carreira da professora palestina. Um dia, na volta para casa, seu marido foi baleado e seus filhos, ao lado do pai, presenciaram todo o ocorrido. O trauma causado nas crianças foi enorme. E Hanan percebeu ali que não eram só seus filhos que estavam sendo marcados pela guerra, mas toda uma geração de jovens – ou melhor, várias.
A educadora decidiu então criar um método, utilizando livros e brincadeiras, para poder ensinar as crianças que vivem na região, em um ambiente extremamente tenso e inseguro. Utilizando o slogan “Não à violência”, Hanan consegue melhorar não só o desempenho acadêmico dos estudantes, mas também sua autoestima. “Se crianças que sofrem com violência não recebem assistência e apoio que precisam, elas perderão seu rumo”, acredita. “Desde o primeiro dia de aula, faço com que meus alunos entendam que em sala de aula somos fuma família – pertencemos uns aos outros”.
Com graduação pela Open Al-Quds University, Hanan já escreveu o livro “Play and Learn” (Brinque e Aprenda, em tradução livre), em que conta sua experiência na escola e como utiliza materiais disponíveis no cotidiano das crianças para criar jogos educacionais.
Tanto em Dubai, como na Palestina, foi grande a celebração da entrega do prêmio à Hanan Al Hroub. “Me sinto extremamente feliz e ainda não consigo acreditar que o Papa disse meu nome”, contou a professora à reportagem da The Associated Press. “Ser árabe – uma professora palestina – falando hoje para o mundo e conseguindo esta grande premiação é um exemplo para professores do mundo todo”.
Centenas de pessoas assistiram a entrega do prêmio ao vivo em praça de Ramallah
Certamente Hanan é um lindo exemplo. Uma mulher que cresceu em meio à guerra e luta pelo direito à educação das crianças. “A única coisa que pode mudar o futuro é a educação”, garante. E assim ela o faz, sempre reafirmando seu mantra: “Não à violência”!
Conheça abaixo um pouco mais da história da vencedora do Global Teacher Prize 2016:
Foto: Global Education and Skills Forum/Fotos Públicas e Global Teacher Prize