Há quatro anos, o Cacique Raoni Metuktire – líder indígena que dedica a vida à luta pela preservação da Amazônia e pela defesa dos povos originários – viajou à Europa para denunciar a situação dos povos indígenas no Brasil: era o primeiro ano do governo Bolsonaro e as ameaças só cresciam.
Ele também foi pedir apoio financeiro aos governos (um milhão de euros) para que as comunidades da Terra Indígena do Xingu (TIX) pudessem iniciar monitoramento contra invasores.
Acompanhado por três líderes indígenas – Kailu, Tapy Yawalapiti e Bemoro Metuktire -, o benadjore (cacique) Kayapó ou por Paris (e foi ao Festival de Cannes), Bruxelas, Luxemburgo – onde se encontrou com os líderes de cada país – e também pelo Vaticano, onde visitou o Papa Francisco.
Agora, com 93 anos (não se sabe ao certo), Raoni lidera uma nova comitiva, que conta novamente com Tapi Yawalapiti (desde 2020 é cacique: seu pai, Aritana, faleceu em agosto desse ano, de covid-19), e, pela primeira vez, com a liderança Watatakalu Yawalapiti, que integra o movimento das mulheres da TIX, coordenadora da ATIX (Associação da Terra Indígena do Xingu) e co-fundadora da ANMIGA (Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade) – ela é prima de Tapi -, além de outros dois parentes (à esquerda na foto abaixo), um deles responsável pela tradução de suas falas para o português.
A viagem começou em 11 de maio (partida de São Paulo), deve durar um mês e inclui Portugal, Berlim, Cannes, Paris, Bruxelas e Luxemburgo no roteiro. O objetivo é buscar apoio financeiro para implementar o monitoramento do Xingu.
“Temos que ampliar o monitoramento territorial porque o Xingu tem sido muito invadido pelo agronegócio, por garimpeiros e madeireiros”, explicou Watatakalu em seu Instagram. Para tanto, “contamos com parceiros que conseguem caminhos pra gente, facilitam nossa chegada a outros países pra levar a luta indígena. Antigamente, era diferente, mas agora sabemos falar o português e transmitir nossas falas para os tradutores. O mais importante disso tudo é que a gente diz como está a situação dos povos, hoje”, acrescentou.
Desta vez, o primeiro país visitado foi Portugal. A comitiva foi recebida pelo presidente Marcelo Rebelo de Sousa na Embaixada do Brasil. “Por que não vir pra cá e falar de reparação histórica? Falar mesmo! Não adianta ficar nas redes sociais! Tem que vir pessoalmente falar com os presidentes e a população para que essas pessoas possam multiplicar a nossa fala”, destacou Watatakalu.

Vale lembrar que, em 25 de abril, durante a celebração da Revolução dos Cravos, de 1974 – que sepultou a ditadura salazarista – e diante do presidente Lula, Rebelo de Sousa declarou que seu país deveria se desculpar pela escravidão e confrontar seu ado colonial.
Em Berlim, eles foram recebidos pelo presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, com o qual conversaram sobre a proteção das florestas na Amazônia.

Raoni, mais uma vez no tapete vermelho
No sul da França, o líder indígena participou do lançamento do documentário Raoni, Uma Amizade Improvável, do cineasta e escritor belga Jean-Pierre Dutilleux (indicado ao Oscar de melhor documentário de longa-metragem em 1979 por outro filme com Raoni, que teve direção de fotografia do brasileiro Luiz Carlos Saldanha), produzido pela Globo Filmes.
Ontem, 18/5, o cacique e seus companheiros participaram da sessão de gala do Festival de Cannes, na Riviera sa, com a pré-estreia do filme Indiana Jones e o Chamado do Destino, que chega aos cinemas em 30 de junho e será o último da saga com o ator Harrison Ford como protagonista.

Lá, os indígenas foram recebidos pelos organizadores e tiveram seu momento ‘celebridade’ ao arem e serem fotografados no famoso e disputado tapete vermelho (foto de abertura deste post). Esta é a segunda experiência ‘glamourosa’ de Raoni e Tapi.
A seguir, assista à chegada dos caciques Raoni e Tapi Yawalapiti ao Festival de Cannes e veja a foto publicada por Watatakalu, em seu Instagram, no qual aparece a comitiva no tapete vermelho, e que tem rodado o mundo.
Foto (destaque): Bob Kuikuro