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Tatu-bola e lobo-guará estão entre espécies mais afetadas pela perda de habitat no Cerrado devido à expansão agropecuária

Tatu-bola e lobo-guará estão entre espécies mais afetadas pela perda de habit no Cerrado devido à expansão agropecuária

Ocupando quase 25% do território brasileiro, o Cerrado é o segundo maior bioma do país. Chamado de “berço das águas”, nele estão a bacia hidrográfica do rio São Francisco e três aquíferos – Guarani, Bambuí e Urucaia. Essa savana, considerada a mais biodiversa do mundo, concentra 5% das espécies do planeta. Mas um novo levantamento elaborado pelo WWF-Brasil e parceiros e divulgado hoje alerta que nos últimos dez anos, o Cerrado perdeu 6 milhões de hectares de vegetação nativa. O desmatamento e a conversão dessas áreas em pasto e lavoura são frutos da expansão agropecuária, especialmente, para a produção de soja e gado.

Segundo a análise, a área mais impactada é aquela conhecida como “Matopiba”, que inclui partes dos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

“Além de já ter perdido mais da metade da sua cobertura original, o que restou no Cerrado encontra-se bastante fragmentado e, em muitos casos, degradado pela ação intensa do homem, criação de gado, fogo recorrente, invasão de espécies exóticas, dentre outros”, diz Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil.

O estudo quantificou ainda a perda de espécies decorrente da destruição e alteração do bioma. Para chegar a essa informação foram cruzados dois tipos de dados: os mapas da distribuição de diversas espécies, disponíveis para no site da União Internacional para a Conservação da Natureza, e aqueles de uso do solo para o Cerrado (fonte MapBiomas, 2019).

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Tatu-bola e lobo-guará estão entre espécies mais afetadas pela perda de habit no Cerrado devido à expansão agropecuária

O lobo-guará é um dos animais símbolos do Cerrado

Entre as espécies que tiveram mais redução de habitat estão o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) e o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), que perdeu mais de 50% de sua área de ocorrência.

O levantamento não avaliou apenas o Cerrado. Mas também, a Amazônia, onde aproximadamente 17% da floresta já foi convertida em áreas para atividades econômicas e outros 17% da vegetação nativa foram degradados.

Das 486 espécies analisadas (183 aves, 101 anfíbios, 118 mamíferos e 84 lagartos e serpentes), nos dois biomas, entre 25% e 65% delas já não contam mais com a sua área original de distribuição. E o mais alarmante é que 136 são endêmicas, ou seja, só são observadas ali e em nenhum outro lugar do mundo.

Tatu-bola e lobo-guará estão entre espécies mais afetadas pela perda de habit no Cerrado devido à expansão agropecuária

Imensa área de desmatamento no Mato Grosso: imagem feita em 2021

Algumas das espécies citadas pelo estudo como em situação bastante preocupante e que já perderam uma média de 70% de sua área de distribuição são o pato- mergulhão (Mergus octosetaceus), o galito (Alectrurus tricolor), a tiriba-do-Paranã (Pyrrhura pfrimeri) e o lagarto-de-rabo-vermelho (Vanzosaura rubricauda). Já o cervo (Blastocerus dichotomus) teve 53% de seu território afetado.

Na Amazônia, o sul do bioma é o mais impactado pelo desmatamento. Apesar disso, a fauna como um todo corre um sério risco. É o caso, por exemplo, do sagui-de-Rondônia (Mico rondoni), que como o nome sugere, só é observado no estado de Rondônia. Com uma área de ocorrência original de 72 mil km2, a espécie já havia perdido 40% da sua área até 2014 e até 2019 viu desaparecer mais 9%.

“É essencial a mudança de mentalidade das empresas e do governo: a destruição do ecossistema é desnecessária, pois já existem áreas suficientes para a expansão do agronegócio – que inclusive, já está sendo prejudicado com quebras de safras constantes por conta da degradação ambiental”, ressalta Napolitano.

Tatu-bola e lobo-guará estão entre espécies mais afetadas pela perda de habit no Cerrado devido à expansão agropecuária

Gráfico acima mostra como as espécies do Cerrado têm sido mais afetadas

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Fotos: divulgação WWF Brasil/© Adriano Gambarini (tatu-bola), Bento Viana (lobo-guará) e Kamikia Kisedje (desmatamento)

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Sandra
Sandra
3 anos atrás

Agricultura sustentável sim , sem o veneno perfeitamente dispensável e substituível por implementos naturais que não agridem a fauna nem a saúde humana. Pecuária não. Já é tempo das pessoas deixarem de olhar para o próprio umbigo, achando que animais de corte nasceram pra isso mesmo, para serem esquartejados. Não nasceram não. Mas a coisa tá mudando já que aqueles que não acompanham as novas idéias, ficam para trás, defendendo justificativas injustificáveis de seus próprios interesses, pois inexorável é o Progresso. Já chega de sangue.

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