Quem se lembra do nascimento do primeiro urutau reproduzido em cativeiro no Brasil? Foi no Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, em 5 de outubro de 2023, Dia das Aves.
A instituição celebrou muito nas redes sociais, mas, cerca de duas semanas depois, ele foi encontrado sem vida pelos tratadores: uma tristeza só! Contamos sobre tudo aqui e aqui.

Mas, em dezembro, o mesmo casal que havia gerado o primeiro urutau (Nyctibius griseus) trouxe boa novas à instituição: um novo e saudável ovo encontrado na manhã do dia 10 por Mário, tratador dos animais, no recinto dos urutaus, que fica na trilha de visitação.
Ele imediatamente avisou a equipe de veterinários e biólogos para que averiguassem a situação.
Apesar de o Parque das Aves priorizar o cuidado de cada filhote pelos pais, devido ao histórico anterior do casal e para aumentar a chance de sobrevivência do filhote, a equipe optou por uma nova estratégia: ‘assistir’ ao desenvolvimento do ovo – incubação artificial – e controlar o nascimento.
“Os pais deste filhote são os mesmos do filhote que nasceu em outubro, mas tiveram dificuldades para cuidar dele, provavelmente pela falta de experiência. Então optamos por recolher o ovo e cuidar dele na sala de Neonatologia, conta Paloma Bosso, diretora técnica do Parque das Aves.
“Perder um animal sempre nos entristece, mas a morte do primeiro urutau nos faz refletir sobre como podemos melhorar e ofertar cuidados ainda mais dedicados a outros animais. Foi justamente isso que nos motivou a realizar todo o processo de incubação, nascimento e alimentação desse segundo filhote sob os cuidados da nossa equipe”, acrescenta ela.
“Ter a assistência integral da equipe à disposição, se mostrou como a melhor decisão. Em seu nascimento, em 13 de janeiro, ele tinha 14,45 gramas e, em 31 de janeiro, já estava com 47 gramas, características de um crescimento bastante sadio”, completa Bianca Fernandes, supervisora da Área de Neonatologia.
O filhote continua sob os cuidados da equipe e segue ganhando peso diariamente e se desenvolvendo normalmente.
“Além deste feito bastante inédito já nos trazer muita alegria, comemoramos com muita ênfase este nascimento principalmente porque o filhote segue crescendo de maneira saudável. Ficamos muito felizes que os esforços tenham rendido frutos. E essa conquista só é possível graças a uma equipe competente e engajada”, destaca Paloma.
Ajuda para romper a casca
Na data esperada para a eclosão do ovo, o monitoramento dos batimentos cardíacos do filhote indicou que ele não conseguiria nascer sozinho.
Foi nesse momento que a médica veterinária Ligia Rigoleto optou pelo nascimento assistido, ou seja, ajudar o urutau a romper a casca do ovo. Tudo correu muito bem e ele veio ao mundo, muito saudável.

Até o sexto dia de vida, sua alimentação consistia em uma papinha desenvolvida por Henrique Tavares, zootecnista do Parque das Aves. E a partir do sétimo dia, o filhote ou a ingerir alimentos sólidos conforme os hábitos alimentares da espécie.

O filhote de urutau nascido em janeiro é o segundo reproduzido em cativeiro e o primeiro incubado artificialmente e de nascimento assistido do Brasil.
Hábitos noturnos
Com ocorrência em todo o Brasil, incluindo áreas de Mata Atlântica, o urutau é uma ave de hábitos noturnos, ou seja, fica alerta à noite, caçando insetos em voo para se alimentar e, durante o dia, permanece completamente imóvel, camuflado em troncos.
“O urutau é um caçador noturno, que voa com a boca aberta capturando insetos. Quando resgatado, geralmente decorrente de maus-tratos, tende a apresentar dificuldade para se alimentar, o que compromete sua qualidade de vida em ambientes não naturais”, conta a diretora técnica da instituição.

O Parque das Aves acolhe a espécie desde 2011, por isso, vem aprimorando os cuidados especializados para oferecer o melhor grau de bem-estar possível a estes indivíduos.
“Desde o oferecimento de itens alimentares adequados, como a criação de um espaço desenhado para a espécie, incluindo a instalação de lâmpadas que atraem insetos e não os incomodam. Tudo é cuidadosamente planejado para proporcionar o maior conforto para esse animais frequentemente vitimados por ações humanas”, explica Paloma.
Vítima de agressões
O Parque das Aves abriga, hoje, cinco urutaus adultos, todos provenientes de resgates realizados por órgãos ambientais devido ao desconhecimento da espécie ou a crendices.
Como o comportamento natural de descanso dessa ave é permanecer imóvel por muitas horas durante o dia, algumas pessoas imaginam que a ave está ferida ou doente e acabam “resgatando” o animal sem necessidade. Paloma alerta:
“Quando encontramos uma ave repousando – qualquer que seja -, o ideal é observá-la à distância, deixando-a descansar com tranquilidade. Porém, se você tiver certeza de que está realmente ferida, a recomendação é não tocar nela, mas, sim, acionar o órgão responsável pelo resgate de fauna na região. Lembrando que essa conduta só é necessária quando, de fato, for preciso intervir para salvar a vida do animal”, explica Paloma.
E há outras características que tornam o urutau vítima constante de agressões. Por ser pouco conhecido e ter hábitos noturnos, como também características físicas que o favorecem à noite – como olhos grandes e coloração marrom, que o camufla nos troncos de árvores -, ele é relacionado a mau agouro.
Sua vocalização noturna – um pouco assustadora, já ouviu? – também é motivo para crendices e ataques.
Por isso, muitos são os indivíduos da espécie que chegam feridos ao Parque das Aves: com fraturas nas asas e lesões variadas pelo corpo.
“Respeitar os hábitos das espécies, bem como manter seus habitats conservados é essencial para que possamos manter o equilíbrio ambiental, que favorece a vida de todos os seres vivos, incluindo os humanos”, alerta Paloma.
Foto (destaque): Parque das Aves/divulgação