
Yara Barros não esconde o amor que sente pelas onças-pintadas. Durante muitos anos a bióloga paulista trabalhou com aves, mas o primeiro contato, cara a cara, com o maior felino das Américas, mudaria para sempre sua trajetória. “Decidi fazer o impossível para garantir que aqueles olhos dourados continuassem brilhando na floresta”, diz.
E Yara tem mantido sua promessa. E como! Há quase uma década é coordenadora executiva do Projeto Onças do Iguaçu, iniciativa que monitora e estuda a população de onças-pintadas no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, assim como realiza um trabalho fundamental de educação ambiental com moradores e proprietários rurais da região, para transformar a percepção sobre esses animais, destacando sua importância para a biodiversidade, e tentando assim evitar a caça por retaliação.
Graças aos esforços do projeto, esse majestoso felino, que quase foi extinto no sul do Brasil no início dos anos 2000, voltou a ser observado, andando livremente e com segurança pelas matas do parque. O censo mais recente realizado ali, em 2022, apontou que atualmente 93 onças-pintadas (entre 73 e 122) tem como lar o chamado Corredor Verde do Brasil e da Argentina. No lado brasileiro, nos últimos 13 anos, o número de indivíduos aumentou de 11 para 25.
Por seu trabalho bem-sucedido à frente do Projeto Onças do Iguaçu, Yara está entre os seis conservacionistas premiados com o Whitley Awards 2025, considerado o maior prêmio mundial da área ambiental, concedido anualmente pelo Whitley Fund for Nature (WFN), fundação do Reino Unido, que seleciona pesquisadores que se destacaram por seu empenho científico para a conservação da biodiversidade em países do Hemisfério Sul.
Há poucas horas, em uma cerimônia em Londres, na Royal Geographical Society, com a presença da princesa Anne, patrona da organização, Yara recebeu o Whitley Award. Em seu discurso, ela contou que quando era criança seu sonho era salvar animais. Anos mais tarde, já como bióloga, viu a última ararinha-azul voando livre na natureza, antes da espécie ser extinta. Foi então que ocorreu o seu encontro com aquela primeira onça-pintada.
“Ganhar esse prêmio está sendo muito, muito maravilhoso. Eu trabalho com conservação há 30 anos, e receber esse prêmio, que é o maior que um conservacionista pode ganhar, é como se fosse o reconhecimento do trabalho de uma vida“, disse Yara ao Conexão Planeta. “É um reconhecimento que mostra que tudo o que fiz tivesse realmente sido bom, valido a pena. É realmente um reconhecimento por uma vida dedicada à conservação.”

Foto: divulgação Whitley Fund for Nature
Cada um dos vencedores do Whitley Award, conhecido como o “Oscar Verde”, recebe 50 mil libras, cerca de R$ 380 mil. Os ganhadores também am por uma semana de atividades na capital da Inglaterra.
Com o financiamento, o Onças do Iguaçu pretende ampliar o trabalho junto a fazendeiros locais, com a instalação de dispositivos antipredação, movidos a energia solar e projetados para proteger o gado, simulando atividade humana. Eles emitem flashes de luz aleatórios, de diferentes intensidades e direções durante a noite, criando a ilusão de movimento e afastando predadores.

Foto: divulgação Whitley Fund for Nature
Além de seu trabalho no Parque Nacional do Iguaçu, Yara também coordena o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Grandes Felinos no Brasil e é membro da Comissão de Sobrevivência de Espécies da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), especializada em planejamento de conservação no país.
Em 2019, a bióloga já tinha recebido outro reconhecimento internacional, ela foi a vencedora do Ron Magill Conservation Heroes Award, que identifica a contribuição excepcional de profissionais e projetos à conservação da fauna silvestre na América Latina e no Caribe.

Foto: divulgação Whitley Fund for Nature
Brasileiros vencedores do Whitley Awards
Ao longo dos últimos anos, diversos brasileiros foram agraciados com o Whitley Award. Em 2020, Patrícia Médici, que se dedica ao estudo e à conservação da anta brasileira e lidera a INCAB – Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, e Gabriela Cabral Rezende, à frente do programa de conservação do mico-leão-preto, do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, estavam entre os vencedores.
No ano seguinte, em 2021, o biólogo Pedro Fruet, co-fundador da organização Kaosa, que tem entre seus projetos a conservação dos botos-de-Lahille, no Estuário da Lagoa dos Patos e águas adjacentes, no Rio Grande do Sul, foi um dos selecionados.
Em 2022, foi a vez engenheiro florestal Pablo Hoffmann, sócio fundador e diretor da Sociedade Chauá ganhar o Whitley Awards, pela proteção da Floresta com Araucárias. No ano ado, quem conquistou o prêmio foi a pesquisadora Fernanda Abra, que luta para proteger a fauna silvestre em rodovias.

Foto: Christian Tuckwell-Smith/Whitley Awards
*Texto atualizado em 01/05/25 para incluir a foto da recebimento do prêmio
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Fotos de abertura: divulgação Whitley Fund for Nature
Parabéns, que projeto maravilhoso! Longa vida ao Onças do Iguaçu!